Em 1970, o presidente americano, Richard Nixon expôs sua estratégia de paz: reduzir a presença militar americana no mundo, começando pelo velho continente. Para pavor dos aliados europeus, que viam Moscou mais perto da supremacia nuclear, a Doutrina Nixon soava como a capitulação americana. Houve quem anunciasse o final da Guerra Fria.
Mas os Estados Unidos não perderam a disputa, num movimento inesperado, mudaram o jogo, convidando mais jogadores ao tabuleiro. E para realizar essa difícil manobra, Nixon fez algo na categoria do inimaginável: em 1972, foi à China.
O Estado de S.Paulo - 20/02/1972
A Casa Branca sabia que parte crucial da viagem era convencer a opinião pública americana que muitos benefícios adviriam do reatamento das relações sino-americanas. Sabia também que o encontro precisava causar uma boa impressão aos seus aliados internacionais, para diminuir a animosidade em torno de sua duvidosa política externa. Washington calculou as variáveis. Henry Kissinger, então Secretário de Estado americano, fez uma visita prévia à China para costurar a retomada das relações, em julho de 1971. Saiu de lá com um convite para Nixon, que prontamente foi à TV comunicar aos americanos que visitaria a China em breve.
O encontro com MaoTsé-tung e as conferências com o primeiro-ministro Chu En-lai eram eventos de suma relevância mundial. Para registrar esse acontecimento histórico, um show midiático foi armado. Jornalistas até hoje se lembram do frenesi das redações e da acirrada disputa por credenciais.
Nixon vai à cerimônia, ao lado do primeiro ministro chinês, Chu En-lai. Fotos: UPI
A comitiva acertou no roteiro e na apresentação. As imagens da visita suavizaram inquietações. Fotógrafos registraram tudo: jantares com brindes celebrando os laços de amizade refeitos; os Nixons indo ao teatro com Madame Mao; o casal presidencial posando para fotos na serpenteante Muralha da China; a primeira dama Pat comprando conjuntos de porcelana para casa e pijamas de seda para o marido, enquanto ele se deliciava, num almoço, com pato laqueado.
O Estado de S.Paulo - fevereiro de 1972
No dia 22/02 os leitores viram a cena mais esperada, imagens do presidente americano Richard Nixon apertando as mãos dos líderes chineses, do presidente Mao Tsetung e do primeiro-ministro Chu Enlai, gestos que marcaram a retomada dos laços entre os Estados Unidos e a China, após 25 anos. Cada dia da viagem foi estampado na capa do Estado, e só uma tragédia tirou Nixon das manchetes: o incêndio no Andraus.
A cobertura mostrou o lado turístico, encantador e amistoso da China sendo redescoberta pelos americanos, exatamente como o RP de Washington planejou, mas não falhou em analisar cada movimento de Nixon, decodificando a intenção política por trás de seus passos. Oito editoriais discutiram e apontaram os diversos ângulos e revezes da aproximação entre os dois gigantes.
O Estado de S.Paulo,24 /02/1972
O assunto da semana ocupou as páginas dos jornais, até em anúncios publicitários
Pesquisa e texto: Lizbeth BatistaSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo e facebook/arquivoestadao