Um ataque cibernético que afetou três redes de TV e dois grandes bancos da Coreia do Sul foi considerado pela maioria dos analistas como uma demonstração de força da Coreia do Norte, num momento de excepcional tensão na dividida península coreana. Autoridades sul-coreanas atribuíram a violação de quarta-feira a um servidor da China, país já usado no passado por hackers norte-coreanos. Isso demonstra a vulnerabilidade da Coreia do Sul --a economia mais conectada do planeta-- a guerras não-convencionais. A chancelaria chinesa disse que os hackers são um "problema global", anônimo e transfronteiriço. "Hackers costumam usar endereços IP de outros países para realizar seus ataques", disse a jornalistas um porta-voz do ministério chinês, Hong Lei. Uma fonte governamental em Seul atribuiu o ataque diretamente ao regime comunista norte-coreano, mas a polícia e a agência nacional de crimes informáticos disse que a apuração das responsabilidades pode levar meses. Jang Se-yul, ex-soldado norte-coreano que formou hackers numa academia militar de Pyongyang antes de desertar para o Sul, em 2008, estima que o Norte tenha cerca de 3.000 militares, incluindo 600 hackers profissionais, na sua unidade cibernética. O local onde Jang estudou, a Universidade Mirim, se chama hoje Universidade da Automação. Ela foi criada no final da década de 1980 para contribuir com a automação militar norte-coreana, e tem atualmente uma turma especial para formar hackers profissionais. Os "guerreiros cibernéticos" norte-coreanos desfrutam de regalias como apartamentos de luxo, disse Jang à Reuters. Segundo ele, Pyongyang vê os ataques digitais como uma nova frente na sua "guerra" contra a Coreia do Sul. "Não acho que eles irão parar em uma disfunção temporária. A Coreia do Norte pode facilmente derrubar outro países em um ataque de guerra cibernética", afirmou. Como acontece com quase tudo na Coreia do Norte, é difícil determinar ao certo as capacidades cibernéticas do país. A vasta maioria dos norte-coreanos não tem computador nem acesso a internet, uma política que o regime de Kim Jong-un adota para limitar a influência estrangeira sobre a população. O funcionário indicado para ser o próximo chefe da inteligência sul-coreana disse recentemente ao Parlamento que o Norte é suspeito de ter causado a maior parte dos 70 mil ataques cibernéticos registrados nos últimos cinco anos contra instituições públicas do país, segundo relato do canal de TV YTN. Recentemente, a Coreia do Norte ameaçou os EUA com um ataque nuclear, e disse que bombardearia a Coreia do Sul em resposta a exercícios militares "hostis" realizados conjuntamente por Washington e Seul. (Reportagem adicional de Jack Kim, Narae Kim, Hyunjoo Jin, Joyce Lee, Se Young Lee, em Seul, e Ben Blanchard em Pequim)