Apenas duas motocicletas foram apreendidas na operação da Polícia Civil do Rio no Complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense), para recuperar 22 fuzis e 89 pistolas semiautomáticas roubadas do Centro de Treinamento Tático (CTT) de Ribeirão Pires, no ABC paulista. Essa foi a primeira ação específica da polícia para tentar encontrar o arsenal usado pela polícia paulista que foi roubado e vendido para diversas facções do crime organizado do Rio.Um delegado e dois policiais da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo participaram da incursão que mobilizou, desde as 9 horas, 70 agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos. "É uma tarefa difícil. A informação da Inteligência da Polícia do Rio indica que os fuzis foram vendidos para várias favelas dominadas por facções criminosas distintas", reconheceu o chefe da Divisão de Operações Policiais da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo, Luiz Antonio Rebello.Rebello e os policiais paulistas viajaram anteontem para o Rio. Ele contou que a operação foi planejada no dia anterior em reunião com o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. Ela tinha como alvo um dos locais onde foram encontrados fuzis roubados nas mãos de traficantes. Dois fuzis do CTT foram encontrados no Rio em outubro. O primeiro deles, um fuzil Colt-Imbel, de calibre 5,56 mm, foi apreendido pela Polícia Militar, após confronto com traficantes, no Complexo da Mangueirinha, dominado pela facção criminosa Comando Vermelho (CV). O segundo fuzil, um Colt-Imbel calibre 223, foi encontrado no Morro da Serrinha, em Madureira, controlado por traficantes da quadrilha Amigos dos Amigos (ADA).MACACOSNo começo da semana, a inteligência da polícia do Rio enviou à Corregedoria da polícia paulista cópias de sete fotografias encontradas em um telefone celular apreendido durante uma incursão. Nelas apareceriam o traficante Jorge Vieira, conhecido como Bebezão, e seus comparsas empunhando fuzis. O delegado paulista mostrará aos donos do CTT as fotos apreendidas pela Polícia do Rio, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na zona norte. Bebezão é apontado como o chefe do tráfico no morro e homem da ADA.Além dele, as imagens mostram homens e adolescentes armados na favela com pelo menos 12 fuzis diferentes. Parte das fotos foi feita em uma casa com piscina. "Alguns fuzis têm o calibre compatível com as armas roubadas. Vamos ver se eles reconhecem as armas", afirmou Rebello. As armas levadas do CTT tinham uma peça que era característica do centro, uma adaptação, o que permitiria o seu reconhecimento por meio de fotos.Com alto poderio bélico, o Morro dos Macacos, dominado pela ADA, foi o epicentro do confronto entre traficantes no dia 17 de outubro - o CV tentou invadi-lo. A polícia interveio, e o intenso tiroteio resultou na queda do helicóptero da Polícia Militar, que tentava por fim ao conflito. Três policiais morreram.A Corregedoria da Polícia Civil desconfia da participação de dois policiais no roubo das armas do CTT. É a existência desses indícios contra os policiais que fez com que o caso passasse para a responsabilidade da corregedoria. O inquérito sobre o crime corre sob sigilo.