Babá grávida de Ribeirão Preto-SP processará laboratório

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Por BRÁS HENRIQUE
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A babá Isabel de Lima Rodrigues, de 19 anos, de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, processará o laboratório farmacêutico EMS-Sigma Pharma, fabricante do anticoncepcional injetável Contracep, que ela afirma certeza que falhou, pois ficou grávida em agosto, apesar de ter o tomado em junho e setembro. Isabel quer uma indenização para ajudá-la a criar o filho, que deve nascer em maio. A Vigilância Sanitária de Ribeirão enviará as amostras de dois lotes (de quatro suspeitos) do anticoncepcional injetável para o Instituto Adolfo Lutz, na capital paulista. As amostras de outros dois lotes suspeitos terão de ser coletadas com o fabricante ou em outra cidade. A Secretaria de Saúde da prefeitura informa desconhecer outro caso suspeito de gravidez. "É uma situação de desconfiança do produto e queremos saber de sua qualidade, pois é inadmissível que um medicamento chegue ao mercado expondo a população", diz a farmacêutica Luci Rodrigues da Silva, da Vigilância Sanitária. "Acredito que a própria indústria tenha interesse nesse resultado." Segundo Luci, os resultados da análise das amostras deverão ficar prontos em cerca de 30 dias. Dos lotes suspeitos de falha, dois não existem mais em estoque no município. Mas eles não têm relação com os quatro lotes interditados no começo de novembro pelo Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez a mesma interdição, de forma cautelar, por 30 dias, para todo o País, de quatro lotes do Contracep, por falhas na dosagem de hormônios na fórmula. Remédio A babá disse que o único remédio que tomou desde junho, por três dias, foi um analgésico e antiinflamatório à base de dicoflenaco, logo após a primeira aplicação do Contracep, por causa de um sangramento vaginal. O médico ginecologista Rui Ferriani, chefe do Setor de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), disse que é pouco provável que o dicoflenaco tenha interferido na eficácia do medicamento. "A chance de interferência é pequena, principalmente, porque é diferente a época da gravidez, agosto, da do medicamento tomado, em junho", declarou. Isabel e o funileiro Fernando Santi Logal, de 28 anos, completarão um ano de namoro na segunda-feira e planejam, ainda surpresos, o casamento (apenas no civil) para breve, mesmo sem casa e com poucos móveis comprados (cama e guarda-roupa). Ela e Logal vão morar na casa da mãe dele. Como babá de dois meninos, Isabel ganha 300 reais mensais. Logal recebe um salário mínimo (390 reais), mas com, os bicos, às vezes, ganha até R$ 1.500,00 por mês. Isabel nasceu em Licínio de Almeida (BA) e chegou a Ribeirão Preto há quatro anos com uma prima, o marido desta e os meninos que cuida. Deixou na Bahia os pais e sete irmãos. O funileiro é o primeiro namorado da babá, que, para evitar a gravidez, tomava anticoncepcional via oral. Mas, como às vezes esquecia, uma médica do Centro Saúde-Escola (CSE) do bairro Sumarezinho, recomendou o uso do método injetável (válido para três meses). A primeira aplicação ocorreu em 13 de junho e a segunda em 5 de setembro. Isabel sentiu enjôo, tontura e dores de cabeça e, em 10 de outubro, a médica fez um teste e confirmou a gravidez. "Ela também não acreditou e o ultra-som confirmou a gravidez", lembra a babá. A médica disse-lhe que a concepção deve ter ocorrido no fim de agosto. Então, a gravidez tem três meses. Isabel mora numa casa humilde, nos fundos de outra, com a família da prima, mas garante que sairá do serviço logo para cuidar da gravidez. Ela irá procurar a Defensoria Pública para pedir uma reparação do EMS-Sigma Pharma. "Ela precisará de um laudo médico e narrar todas as informações sobre o caso para ter a orientação de uma eventual ação judicial movida por nós ou por um advogado", disse o coordenador da Defensoria Pública de Ribeirão, Victor Hugo Albernaz Júnior.

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