O Banco Central disse que o cenário para a inflação brasileira não melhorou desde sua última reunião e que o ciclo de aperto monetário deverá ser "suficientemente prolongado". Os comentários constam da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, documento considerado "hawkish" pelo mercado. No Copom da semana passada, a Selic foi elevada em 0,25 ponto percentual para 12 por cento, por 5 votos a 2, diminuindo o ritmo de 0,50 ponto usado até então. "O Copom entende que o cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente desde sua última reunião... (e) reconhece um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza acima do usual, e identifica riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta", afirmou o documento, divulgado nesta quinta-feira. "O Copom entende, de forma unânime que, diante das incertezas quanto ao grau de persistência das pressões inflacionárias recentes, e da complexidade que envolve hoje o ambiente internacional, o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado", acrescenta a ata. Para Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, a ata deve acabar com as previsões de possibilidade de parada da alta na reunião de 7 e 8 de junho. "É uma ata bastante dura, talvez a mais hawkish da nova diretoria. Há uma clara sinalização de que houve uma reavaliação da estratégia de política", disse Santos, que vai revisar suas projeções sobre a Selic para cima. "A sinalização é de 'vamos fazer o suficiente para trazer a inflação do ano que vem (para o centro da meta)'. Estava havendo uma perda de credibilidade do BC nesse sentido, e aparentemente agora ele recupera isso", acrescentou. O BC vinha dizendo até agora que buscava uma convergência suave para a meta e que trabalharia para que isso ocorresse em 2012. A postura era criticada pelo mercado, que seguidamente vem elevando suas previsões de inflação, que para este ano estão em 6,34 por cento e para 2012 estão em 5 por cento. A meta de inflação dos dois anos tem centro em 4,5 por cento e tolerância de 2 pontos de tolerância. Sobre a divisão da última reunião, a ata detalhou que parte dos membros do BC acha que o balanço de riscos pedia a manutenção do ritmo de ajuste da taxa Selic, de 0,50 ponto, para conter os riscos de que as pressões inflacionárias recentes se transmitam ao cenário prospectivo. A maioria do Copom, no entanto, acredita que já foi feito um "substancial esforço anti-inflacionário" nos últimos meses e que há defasagens na transmissão dessas ações para a economia, "o que, associado à decisão de se prolongar o ciclo de ajuste, recomendaria uma reavaliação da estratégia de política monetária". O BC disse prever dois momentos para a inflação neste ano, com a inflação em 12 meses neste trimestre e no próximo permanecendo em níveis similares ou superiores aos do primeiro trimestre, mas desacelerando no quarto trimestre, indo em direção à trajetória de metas. POLÍTICA FISCAL E CRÉDITO O comitê ressaltou, no entanto, que seu cenário central considera que o governo fará sua parte, do lado fiscal, e que o crédito irá desacelerar para um ritmo moderado, o que ainda não aconteceu. "O Copom reafirma que o cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais... (e) destaca que o cenário central também contempla moderação na expansão no mercado de crédito." Apesar de discordar, o mercado vinha prevendo que o fim do ciclo estaria próximo de acordo com as declarações do BC, o que parece pouco provável agora. "O mercado deve caminhar para duas altas de 25 (0,25 ponto percentual) ou mais, e não duas altas de 25 ou menos", como vinha ocorrendo até então, disse Vladimir Caramaschi, economista-chefe do Crédit Agricole Brasil. No mercado de juro futuro, as projeções de curto prazo subiam, enquanto as mais longas caíam, com o mercado vendo um aperto mais concentrado agora, ao contrário da visão anterior de parada no curto prazo e retomada mais para a frente. ATIVIDADE Sobre o cenário externo, o BC notou que a volatilidade e a aversão ao risco se elevaram desde sua última reunião. Em relação à atividade interna, o Copom avaliou que "embora esteja em curso moderação, em ritmo ainda incerto, da expansão da demanda doméstica, são relativamente favoráveis as perspectivas para a atividade econômica". Para o BC, a atividade doméstica continuará sendo favorecida pelo vigor do mercado de trabalho. (Reportagem adicional de Nathália Ferreira)