PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Três meses depois, economia segue à espera da Previdência

Governo muda de atitude para tentar angariar apoio no Congresso ao projeto de reforma previdenciária, enquanto tudo fica parado aguardando sinais positivos

PUBLICIDADE

Foto do author Alexandre Calais

Caro leitor,

PUBLICIDADE

O governo vai caminhando para seu centésimo dia. Um período muito mais de turbulências que de avanços concretos em todas as áreas. O que vale também, claro, para a economia. Certo, o projeto de reforma da Previdência, apontado quase unanimemente como o mais importante, foi enviado ao Congresso. Mas, depois disso, a tramitação tem sido muito mais turbulenta do que se esperava. E, enquanto a mudança nas aposentadorias não anda, tudo o mais fica à espera.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiu propondo uma revolução na economia brasileira. Em seu discurso de posse , prometeu a abertura da economia, privatizações e redução de impostos. Palavras mágicas para o mercado financeiro e para o setor produtivo. Mas é bem pouco provável que essa agenda saia do papel se o governo não mostrar força suficiente para aprovar a Previdência. E a desarticulação do governo, que ainda não conseguiu sequer formar uma base parlamentar no Congresso – o que inviabiliza completamente a aprovação de um projeto de tal magnitude -, vem tornando essa tarefa bem mais complicada. Como apontou o editorial do Estadão, nenhum presidente pode descuidar da articulação política no Congresso.

Guedes emaudiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Foto: ANDRE COELHO/ESTADAO

Na avaliação da nossa colunista Elena Landau, o problema é que, na maior parte desses pouco mais de três meses, “o governo escolheu o confronto: nós os virtuosos contra eles, os corruptos”. Mas já vimos isso antes, lembra a economista. “Bolsonaro não tem o monopólio da virtude como ele quer fazer crer.”

Nesta semana, a estratégia começou a mudar um pouco. Na terça-feira, 2, Paulo Guedes abriu as portas do Ministério da Economia para receber parlamentares – e voltou a ouvir que há enorme resistência no Congresso em relação às mudanças no BPC (benefício de prestação continuada, o auxílio a idosos carentes) e na aposentadoria rural.  O gesto do ministro foi bem recebido pelos deputados.

Publicidade

Na quarta-feira, 3, Guedes foi à Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ) defender o projeto da Previdência. Foi bombardeado quase que ininterruptamente pela oposição, até explodir, seis horas depois, ao ser chamado de “tigrão” e “tchutchuca” pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR). Episódio que deixou evidente, mais uma vez, a desarticulação do governo, que não conseguiu escalar nem parlamentares do PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro, para ajudar o ministro. Como escreveu nossa colunista Eliane Cantanhêde , “a tropa de elite falhou”.

Na quinta-feira, o próprio Bolsonaro resolveu se encontrar com líderes partidários, também para tentar destravar a Previdência. E, segundo o ministro Onyx Lorenzoni, pediu desculpas pelas “caneladas” com o Congresso. Seis partidos participaram da conversa, mais seis estão agendados para a semana que vem. É possível que algo tenha mudado.

Os empresários, cientes da importância da reforma previdenciária e preocupados com as dificuldades que se apresentam, também resolveram entrar efetivamente em campo. Como mostramos aqui no Estadão, o movimento Brasil 200 – que reúne nomes como Flávio Rocha (Riachuelo), Luciano Hang (Havan), Sebastião Bomfim (Centauro) e João Apolinário (Polishop) ­– resolveu intensificar campanhas nas redes sociais e também a pressão sobre parlamentares.

E o governo também começa a se preocupar em mostrar que a economia não se resume à Previdência. Segundo nos informou o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, há quatro programas para uma “reanimação” da atividade econômica sendo preparados para os próximos meses, envolvendo de qualificação da mão de obra à eliminação de burocracia. O País anda mesmo precisando de algum estímulo, porque as projeções para o crescimento do PIB deste ano despencam semana após semana e já estão abaixo dos 2%. Mas a grande verdade é que, no final das contas, sem reforma da Previdência, as perspectivas não são mesmo nada boas. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.