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''Bonzinho não leva a lugar nenhum''

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Poucas pessoas podem fazer com mais propriedade a genealogia dos craques brasileiros. Zagallo foi campeão do mundo pela primeira vez em 1958, dividindo o gramado com Pelé, Garrincha, Didi e Vavá. Em 1994, como auxiliar técnico, viu brilhar mais alto a estrela do baixinho Romário. Nesse intervalo, acompanhou jovens promessas atingirem o auge na carreira - e outras ficarem no meio do caminho. Receita pronta não há. Mas a conjunção entre um atleta de qualidade e um técnico de pulso ajuda nesse percurso, diz o tetracampeão Zagallo.Como transformar uma promessa em craque?O jogador tem de ter qualidade. O amadurecimento e o crescimento dos craques ocorrem nas competições. Mas é difícil dizer o que precisa ser feito.Como evitar que esse atleta promissor se perca?Jogador bonzinho não vai levar a nenhum lugar. Você tem de saber lidar com os complicados. Não dá para perder o moral, o técnico precisa saber se impor. Até porque esse tipo de jogador pode fazer falta em uma seleção brasileira. Tenho um exemplo. Tiramos o Romário no momento certo e depois trouxemos o jogador de volta (nas eliminatórias de 1993). Mostramos pulso.O senhor aponta algum candidato a craque neste Mundial? Messi, Kaká, Cristiano Ronaldo, quem sabe até Ronaldinho...Esses jogadores já mostraram qualidade em suas seleções. Isso é importante porque às vezes alguém vai bem no clube e não dá certo na seleção. Ronaldinho é um exemplo. No Barcelona, conquistou tudo. Vestindo a amarelinha, deixou a desejar. Talvez por jogar de forma diferente. No Brasil, não se adaptou ao lado do Kaká. Isso provocou problemas táticos para a seleção.Você levaria Ronaldinho para a Copa? E Robinho? Ronaldo e Roberto Carlos têm chance?Eu não tenho absolutamente nada contra o Ronaldinho. Mas na seleção ele não produziu o esperado. Agora, fez três gols no Siena (pelo Milan) e já estão dizendo que ele é imprescindível. Há muita precipitação. O Maradona falou que o Ronaldinho é craque, não pode ficar de fora. Ele tem de se preocupar em escalar a Argentina, que está mal. Robinho não vem jogando bem. Mas isso é problema do Dunga, confiar nele ou não. Já a situação de Ronaldo e Roberto Carlos é delicada. O Ronaldo fez até lipo. Tem o problema físico, a idade e a necessidade da seleção. Para uma Copa, que são apenas sete jogos, se você precisar, pode pensar em convocar. Qual sua expectativa para a Copa? Os favoritos de sempre?Vai ser um Mundial equilibrado. Vou sempre apontar Brasil, Itália e Espanha como favoritos. Ninguém está falando da Inglaterra, mas acho que também pode surpreender. Principalmente por causa do (técnico italiano) Fábio Capello, que traz uma escola forte. E a Argentina até agora não se encontrou.O que o senhor espera do Brasil depois da Copa de 2006?Houve mudança de jogadores de lá para cá. Dunga conseguiu harmonizar e formar boa seleção. Pode ter um problema ou outro, mas já tem estrutura. Precisamos de lateral-esquerdo e de outro ponta de lança para jogar com o Luís Fabiano.Acha que a inexperiência do Dunga como técnico pode pesar ou a Copa América e a Copa das Confederações deram a bagagem necessária?Vou tirar por mim. Comecei como treinador nos juniores do Botafogo, alcancei a equipe principal ganhando títulos até chegar à seleção. Ele começou de uma maneira que não é a melhor, mas com o tempo foi demonstrando sua capacidade de liderança. Mostrou que para toda regra há exceções.Qual sua opinião sobre o retorno dos veteranos ao Brasil?A saída precoce de jovens talentos tem muito a ver com isso. Mesmo com a idade avançada, se destacam pela capacidade técnica, pela habilidade. Também estão ganhando mais tempo pela evolução da preparação física. Mas, se os jovens ficassem no País, não teriam o mesmo espaço. A Lei Pelé precisa ser modificada para evitar a saída desses garotos.

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