O trem que chega à ?Suíça brasileira?, Campos do Jordão, a 167 km de São Paulo, passa em frente da morada de Antônio, na estação ?Sanatórios? da ferrovia. No início do século passado, ali desembarcavam milhares de doentes que se dirigiam aos 14 sanatórios para portadores de tuberculose que existiram na cidade, então conhecida pelo suposto poder terapêutico de seus ares. Mas a descoberta de medicamentos que curam a doença e o fechamento da maioria dos hospitais ao longo dos anos deram uma nova função à ferrovia, hoje rota de turistas. Antônio, porém, chegou à mesma ?estação? há um ano, em ambulância de sua cidade, que o enviou para o hospital filantrópico Leonor Mendes de Barros, um dos dois sanatórios que restaram em Campos. Apesar de gratuita e de não exigir internação na maior parte dos casos, a terapia para a tuberculose é longa (no mínimo seis meses), exige disciplina na ingestão diária de antibióticos, além de alimentação adequada e repouso - o que nem todos têm condições de atender. Em Campos de Jordão, nas duas unidades conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) - e subordinadas à Secretaria de Estado da Saúde - vivem hoje 185 doentes, entre eles ex-moradores de rua, usuários de drogas que perderam tudo, doentes psiquiátricos e outras pessoas com graves dificuldades financeiras. ?A tuberculose é só um dos problemas dos pacientes, com vários outros em volta?, diz João Marcos Romain, diretor administrativo da unidade, comandada pela Sociedade Beneficente São Camilo. ?Antônio Carlos Forte, só agora fraco?, diz Antônio, de 39 anos, quando a reportagem lhe pergunta o nome. Morador de Capão Bonito, a 226 km da capital, foi parar no hospital depois de ter a doença pela segunda vez. Na última, pegou a forma resistente, que exige tratamento mais longo, de um ano e meio. ?Pensava que era uma gripe forte?, diz Antônio, que vivia de bicos como pedreiro. Sem poder trabalhar, com os pais já mortos e os outros dois irmãos também doentes, vivia da ajuda de um sobrinho, até que não deu mais. ?Estou louco para ir embora, me virar?, diz o ex-pedreiro, que ganhou 30 quilos no hospital, mas sente a falta da família, de suco, guaraná, bolo, chinelos novos - e de ter a própria vida. ?Vai ser como tirar um passarinho de uma gaiola?, diz, a uma semana de ir embora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo