Carrasco da ''guerra suja'' vai a julgamento

Ex-capitão Astiz é acusado de assassinatos, torturas e sequestros durante o período da ditadura na Argentina

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Por Ariel Palácios e BUENOS AIRES
Atualização:

O julgamento do ex-capitão Alfredo Astiz deve começar hoje na Argentina. Conhecido por suas vítimas como o "anjo loiro da morte", ele é acusado de ter cometido sequestros, torturas e assassinatos de civis durante a ditadura militar (1976-1983). Serão julgadas também outras 18 pessoas que teriam trabalhado com ele na Escola de Mecânica da Armada (Esma), o maior centro clandestino de tortura do regime militar.Astiz era uma das estrelas da Esma, já que as missões mais complexas eram encomendadas ao jovem oficial pela alta hierarquia militar. Estima-se que 5 mil prisioneiros civis passaram por lá, dos quais sobreviveram menos de 170. Cerca de 280 testemunhas comparecerão ao tribunal, em um julgamento que, segundo fontes ouvidas pelo Estado, poderia prolongar-se por um período de seis meses a um ano.Entre os outros ex-militares que serão julgados estão Alfredo Donda Tigel - que sequestrou o próprio irmão e a cunhada, os assassinou e ficou com suas filhas -, e Jorge "El Tigre" Acosta, famoso por estuprar as prisioneiras.Astiz é considerado um dos membros da ditadura com o perfil psicológico mais intrincado. "Ele tinha absoluta certeza de que estava destinado a grandes missões em sua vida", disse Miriam Lewin, ex-prisioneira de Astiz. Sara Osatinsky, outra sobrevivente, relatou que o centro da vida de Astiz era a escola: "Uma vez ele saiu de férias, mas voltou quatro dias depois, pois havia descoberto que não podia compartilhar suas atividades com os amigos. Por isso passou o resto de suas férias na Esma, conosco."Astiz foi responsável pelo assassinato de três fundadoras do grupo Mães da Praça de Maio, entre elas, Azucena Villaflor. Ele também é requerido por vários tribunais na Europa.Na Itália, ele foi acusado de ter sido o autor do desaparecimento de três cidadãos italianos em território argentino durante o regime militar. Em 1990, a Justiça francesa condenou o ex-capitão - à revelia - à prisão perpétua pela morte de duas freiras. Astiz também é procurado pela Justiça da Suécia. As duas freiras foram sequestradas em uma operação planejada por Astiz, que com suas suas feições de "menino bem comportado" infiltrou-se na organização Mães da Praça de Maio fazendo-se passar pelo irmão de um desaparecido. A cara ingênua de Astiz convenceu as mães, que somente perceberam quem ele era tempos depois. Sob este disfarce, Astiz recolheu informações e decidiu que as duas religiosas deveriam ser eliminadas.Protegido pela cúpula militar, Astiz foi recompensado por seus serviços durante o período mais intenso de repressão com o cargo de governador das ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. Mas essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito bélico. Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir. Ele foi beneficiado em 1986 e 1987 com as leis de perdão aos militares (leis de Ponto Final e de Obediência Devida).

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