A condenação da polícia no caso Jean Charles de Menezes abre agora caminho para que um outro inquérito seja reaberto para determinar as causas da morte do brasileiro. Trata-se do inquérito que vinha sendo realizado pelo legista e que tinha sido adiado até a conclusão do processo que examinou se a Polícia Metropolitana de Londres violou regras de segurança e de saúde pública. Veja também: Chefe da Scotland Yard é pressionado a renunciar Cronologia do caso Jean Charles Na Grã-Bretanha, legistas são responsáveis por abrir processo e solicitar júri popular quando autoridades públicas estão envolvidas em mortes violentas. No julgamento concluído nesta quinta-feira, a Polícia Metropolitana foi considerada culpada por ter colocado a segurança do público em risco na ação que resultou na morte de Jean Charles, em julho de 2005. Segundo os advogados da família de Jean Charles, no dia 10 de dezembro a Corte do Legista, a Coroner's Court, no sul de Londres, informará quando a investigação será retomada e quais serão as testemunhas a ser ouvidas. Em entrevista à BBC Brasil, a advogada da família, Harriet Wistrich, disse que o objetivo deste inquérito é determinar com precisão "todos os detalhes das circunstâncias da morte de Menezes". "Por ser um inquérito civil público, a investigação tem como objetivo a apuração completa dos fatos e não apontar os culpados. Mas se a conclusão for de que a morte de Menezes foi ilegal, poderemos dar entrada num novo inquérito criminal", disse Wistrich. A investigação na Coroner's Court contará com depoimentos das várias partes envolvidas no caso. "Familiares, amigos, passageiros que estavam no metrô no momento que o brasileiro foi morto e até os policiais envolvidos na ação poderão ser chamados a depor", informou a assessoria de imprensa da corte à BBC Brasil. O primo de Jean Charles, Alex Pereira, disse esperar que o inquérito mostre que os policiais "agiram ilegalmente" ao matar Jean. "Nós queremos esclarecer por que eles atiraram mesmo sabendo que ele não carregava bomba. O policial (identificado durante o julgamento como) 'Ivor', que agarrou o Jean dentro do metrô, sabia que ele não oferecia perigo, que não carregava bomba nenhuma". "Vai ter muita pergunta que ainda não tivemos oportunidade de fazer, porque nós não tivemos participação nenhuma no julgamento que terminou agora." Alex ainda disse que com a nova investigação, a família espera derrubar argumentos utilizados pela polícia durante o julgamento na corte de Old Bailey. "Eles diziam que Jean estava ilegal, o que é uma mentira. Ele tinha chegado em Londres há três meses. Como poderia estar ilegal se todo mundo entra com visto de no mínimo seis meses?". Ainda para Pereira, a família quer contestar a tese de que Jean havia usado cocaína. Um patologista, ouvido durante o julgamento sobre a violação de regras de segurança por parte da polícia, disse que Jean Charles tinha traços de cocaína no seu corpo quando foi morto. "A polícia lamentou o que aconteceu, sabe que errou, mas continua alegando que ele estava drogado e ilegal, só para sujar a imagem dele. A desculpa da polícia é inaceitável", concluiu Alex. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.