Celibato estaria na raiz dos casos de pedofilia

A opinião, motivada pelos escândalos recentes divulgados na Alemanha, é de um cardeal geralmente citado na lista de próximos papáveis

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Por GILLES LAPOUGE
Atualização:

Mal o papa Bento XVI havia tratado do escândalo de pedofilia envolvendo padres irlandeses, ele teve de apagar outro incêndio. Trata-se de casos de abusos sexuais que atingem a Alemanha, seu país de origem.Pior: as novas revelações se referem ao Coro Infantil de Ratisbona, cujo diretor foi, de 1964 a 1994, o irmão de Bento XVI, Georg Ratzinger. Está claro que Georg não está implicado nesse novo escândalo. Ele apenas regia o coro na época dos acontecimentos indignos.Foi o compositor Franz Wittenbrink, ex-aluno do coro, que falou. Suas recordações são terríveis. "Reinava um sistema de complô à base de punições sádicas", explicou ele à revista Der Spiegel. Em seguida, descreveu uma cena quase incrível: "O diretor do internato convidava dois ou três meninos para seus aposentos, à noite. Distribuía vinho e se masturbava na companhia dos menores." Georg Ratzinger foi interrogado a respeito. Ele ignorava, é claro. "Eu sabia que alguns professores tinham a mão rápida (para uns tapas), mas ignorava tudo sobre violências sexuais." Todos os jornais europeus reportam esse caso, incluindo o grande jornal da burguesia francesa, Le Figaro, o italiano La Reppublica e o alemão Passauer Neue Presse.O governo alemão mostra os dentes. A ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, afirmou que "o Vaticano dificulta as investigações judiciais sobre abusos sexuais". O irmão do papa se disse disposto a esclarecer os fatos, mas eles parecem antigos demais para serem objetos de inquéritos.Como ocorre toda vez que eclode um escândalo, grande parte dos cristãos denuncia um "complô contra a Igreja, contra o papa". Observa-se que a maioria dos artigos consagrados a esses casos é em tom moderado. E não se pode absolutamente classificar Le Figaro, jornal bem pensante por excelência, entre as "folhas anticlericais".A Alemanha não é o único país atingido. A vaga se espraiou também por Holanda e Áustria. Nesse último, uma tomada de posição foi revelada. Um cardeal, o bispo de Viena, Christoph Schönborn, disse o que até agora o Vaticano sempre se recusou a considerar. Em carta, ele calcula que o celibato é uma das causas da pedofilia. No passado, alguns padres, como o suíço Hans Kung, haviam exprimido a mesma opinião, mas o Vaticano jamais quis considerar o problema.Hoje, um cardeal, geralmente citado na lista dos próximos papáveis, quebra o silêncio. Monsenhor Schönborn sempre considerou que valia mais enfrentar o escândalo e mesmo a vergonha que se refugiar no silêncio e na mentira. Em 1995, ele foi nomeado para a arquidiocese de Viena por João Paulo II, em caráter de urgência, após a demissão de seu antecessor. Na ocasião, ele reconheceu publicamente que a demissão fora decorrência de pedofilia. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

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