Cenário econômico e revolução móvel pesam no setor de tecnologia

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Por POORNIMA GU
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O setor móvel pode ser o futuro da tecnologia, mas em meio à proliferação mundial de aparelhos de alta potência como os celulares inteligentes e os tablets, algumas companhias enfrentam dificuldades para manter um faturamento consistente. A decepção quanto aos resultados anunciados nesta semana pela Intel, Microsoft, Google e AMD serve para sublinhar até que ponto o Vale do Silício, tanto a velha guarda quanto a nova geração, vem enfrentando dificuldades para lucrar com o decrescente amor dos consumidores pelos velhos computadores pessoais e com sua nova paixão pelos aparelhos móveis --a mais significativa das mudanças tectônicas a acontecer na tecnologia desde o advento da Internet. Isso é um mau sinal para as empresas que divulgarão na semana que vem e enfrentam deficiências na publicidade e serviços móveis --mais conhecidamente o Facebook, que causou tumulto ao alertar sobre expectativas exageradas quanto às suas operações móveis logo antes de sua importante oferta pública inicial de ações. Amazon e Apple devem se sair melhor, antecipam os analistas. A Apple, que anunciará resultados na quinta-feira, vem enfrentando limitações de capacidade de produção e problemas de abastecimento, mas os analistas alegam que esses são percalços positivos, causados pela demanda muito aquecida por aparelhos móveis. Amazon e eBay, enquanto isso, vêm conquistando êxito nos esforços para chegar aos consumidores via aparelhos móveis, especialmente a Amazon, com seus tablets Kindle Fire de baixo preço. Mas outras empresas enfrentam dificuldades. "As companhias estão percebendo que não é fácil encontrar uma fórmula que funcione no mercado móvel", disse Carolina Milanesi, analista da Gartner. "Operar no setor móvel não está se provando tão simples quanto alguns imaginavam". Os sinais de que alguns dos mais inovadores entre os atuais gigantes do Vale do Silício estão enfrentando dificuldades para descobrir como faturar com os usuários de aparelhos móveis surgem em um mau momento para um setor que já vem enfrentando dificuldades devido ao ambiente macroeconômico deteriorado. O maior choque talvez tenha sido causado pelo Google, que perdeu mais de 20 bilhões de dólares em valor de mercado depois de registrar desaceleração nas suas operações principais de publicidade vinculada a buscas. Os críticos afirmaram que isso não aconteceu por acaso. "Os preços dos anúncios vinculados a busca caíram pelo quarto trimestre consecutivo depois de subir pelos oito anteriores. Isso é um dado negativo. É o efeito do problema causado pelos aparelhos móveis", disse Colin Gillis, analista da BGC. E há o caso da Zynga, o exemplo mais sério de problemas na transição para o mundo móvel. Em 2011, a produtora de jogos casuais era a queridinha da Internet. Em 2012, reduziu suas projeções duas vezes e perdeu três quartos de seu valor de mercado, devido à falta de adesão dos usuários móveis aos seus jogos, o que levou analistas a alertarem sobre a possibilidade de pesadas demissões. DE MAL A PIOR Os problemas mais graves talvez estejam na Intel e outras empresas fortemente vinculadas aos computadores pessoais. A projeção fraca anunciada pela Intel para o quarto trimestre pôs fim às esperanças de que o mercado de computadores possa se recuperar bem no período de fim do ano. Embora dominasse o fornecimento de chips para computadores pessoais em seu apogeu, a Intel tem menos de um por cento do mercado de celulares inteligentes. A AMD, veterana rival da Intel, está em situação ainda pior, e anunciou nesta semana que demitirá 15 por cento de seu pessoal --mais de 1,6 mil pessoas-- como parte de nova reestruturação para reduzir custos, enquanto tenta definir seu futuro. Na quinta-feira, a Microsoft revelou queda de 22 por cento em seu lucro trimestral, com o recuo nas vendas de computadores equipados com seu sistema operacional Windows. OS VENCEDORES CONTINUAM GANHANDO Aqueles que vêm se saindo melhor são as empresas com presença estabelecida no setor móvel, depois de terem começado a investir nele anos atrás. A Verizon Communications anunciou lucro trimestral recorde em função de sua divisão de telefonia móvel, cuja demanda é propelida principalmente pelo iPhone. O onipresente celular da Apple tem papel até mesmo na oferta de aquisição de uma participação majoritária na Sprint Nextel pela japonesa Softbank. A Softbank, primeira companhia a oferecer o iPhone no Japão, ofereceu 20 bilhões de dólares pela Sprint e declarou admirar os esforços da operadora para promover o uso do iPhone em sua rede. Se as companhias de tecnologia só tivessem de lidar com a transição de plataformas, seria uma coisa. O problema é que o fazem em uma economia fraca, na qual atualizações de tecnologia são muitas vezes o primeiro item a ser cortado, e o consumo está em queda. "Parece que as condições macroeconômicas realmente se deterioraram, e nenhuma companhia de tecnologia está imune a isso", disse Trip Chowdhry, analista na Global Equities Research. (Por Noel Randewich, Gerry Shih e Alexei Oreskovic em San Francisco, Bill Rigby em Seattle, Nicola Leske em New York e Melanie Lee em Xangai)

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