A indicação de hormônios, de altas doses de vitaminas ou de qualquer outra técnica para conter o envelhecimento está proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Médicos que continuarem recomendando o uso de produtos ou remédios com esse fim poderão receber de advertência até cassação do registro. "Não há nada que demonstre a eficácia dessas técnicas", justificou o coordenador da Câmara Técnica de Geriatria do CFM, Gerson Zafalon Martins. "Além de não trazer benefícios, esses tratamentos aumentam os riscos para várias doenças." A decisão é resultado de um trabalho desenvolvido há mais de um ano, quando uma equipe do conselho foi formada para avaliar estudos sobre as técnicas antienvelhecimento. Em agosto, quando os trabalhos foram concluídos, o CFM editou parecer condenando esse tipo de técnica. A resolução agora deixa claro que a prescrição das técnicas passa a ser uma infração ética. A proibição diz respeito apenas às técnicas de antienvelhecimento. "Claro que se o paciente tiver uma deficiência, terapias de reposição poderão ser feitas", afirma Martins. É o caso, por exemplo, de pessoas com baixos níveis de hormônio da tireoide, mulheres na menopausa que apresentam problemas como depressão ou fogachos ou crianças que tenham deficiência do hormônio do crescimento. Desde que com exames que comprovem os problemas. Entre os hormônios indicados nas clínicas antienvelhecimento estão melatonina, cortisol, hormônio do crescimento, progesterona e testosterona. Há aqueles que indicam altas doses de vitaminas. "A resolução não impede que vitaminas sejam indicadas em casos específicos. Mas não com a finalidade de interrupção do envelhecimento", disse Salo Buskman, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. O médico considera importante a resolução. "Vários abusos começaram a ser cometidos. Algo que, além de não trazer benefícios, poderia prejudicar pacientes." Como exemplo, citou a indicação de estrogênio a mulheres que já ultrapassaram a menopausa. O hormônio, afirma, deve ser usado por no máximo cinco anos, mediante um rígido acompanhamento de médicos. "Estudos relacionam o estrogênio ao câncer de mama e útero. Atualmente, ele é indicado apenas para um grupo de mulheres." Buskman criticou também a indicação de hormônios chamados bioidênticos. "É um hormônio igual ao que é industrializado, mas preparado por farmácias de manipulação, com controle bem menos rígido."Ele também cita que pacientes, ao aderir a esses tratamentos, podem deixar em segundo plano atitudes que de fato funcionam: mudança na alimentação, prática de exercícios físicos e exames preventivos. "O paciente tem uma falsa sensação de segurança. E o dinheiro que ele poderia investir num professor de ginástica, por exemplo, acaba gastando com técnicas caras, de moda e sem comprovação."O professor da Universidade Federal da Bahia Elsimar Coutinho disse preferir se manifestar somente depois de ler a resolução. "O que posso dizer é que há mecanismos para reduzir o ritmo do envelhecimento. Isso pode ser feito. Querer proibir isso é querer barrar todo o conhecimento médico."Fiscalização. O controle de abusos era feito pelo CFM até agora com base no Código de Ética. Nos últimos quatro anos, cinco médicos foram cassados por indicar tratamentos sem comprovação científica. No mesmo período, outros dez profissionais foram condenados a penas de suspensão e censura pública.
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