Chávez diz que Uribe usava 'máscara' e 'não quer paz'

Briga entre Caracas e Bogotá coloca em risco balança comercial de US$ 4,1 bilhões

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Por Claudia Jardim
2 min de leitura

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse nesta segunda-feira que "caiu a máscara" do mandatário colombiano, Álvaro Uribe, e que ele "não quer paz" na Colômbia. As declarações de Chávez, feitas durante um ato com militares venezuelanos, a poucos dias de sua proposta de reforma constitucional ser submetida a um referendo, dão continuidade à crise diplomática entre os dois países, iniciada na semana passada. "O que eu fiz foi colocar o presidente Uribe no seu lugar (...) Uma máscara que ele colocou com dificuldade e não conseguiu sustentar (...) mas chegou o momento de desmascarar o presidente da Colômbia. Ele não quer paz", disse Chávez. No fim de semana, Uribe havia acusado Chávez de "legitimar o terrorismo", de "incendiar a região" e de pretender estabelecer um governo de transição na Colômbia. Antes, o presidente venezuelano chamou Uribe de "mentiroso" e o acusou de "traição". A briga entre Caracas e Bogotá tem sido considerada a pior dos últimos anos e coloca em risco uma balança comercial estimada em pelo menos US$ 4,1 bilhões. A polêmica teve início na semana passada, quando o presidente colombiano, por meio de um comunicado oficial, deu por encerrada a mediação de Chávez na busca de um acordo humanitário com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Uribe disse que tomou a decisão porque Chávez teria falado por telefone com o comandante do Exército colombiano, Mario Montoya, desrespeitando assim um acordo entre os dois, segundo o qual o líder venezuelano não poderia se comunicar diretamente com o alto comando militar colombiano. Chávez atribuiu o seu afastamento das negociações com as Farc à pressão norte-americana e da elite colombiana sobre o presidente Uribe. Desde agosto, Chávez vinha atuando como mediador entre o governo da Colômbia e as Farc na busca de um acordo humanitário que permitisse que 45 reféns fossem soltos em troca da libertação de cerca de 500 integrantes do grupo guerrilheiro que estão presos. Entre os reféns em poder das Farc está a senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt. Na semana passada, Chávez se limitou a dizer que estava "frustrado" com a decisão de Uribe. No entanto, após um novo comunicado do governo colombiano, o presidente venezuelano decidiu colocar a relação entre as duas nações no "congelador". Em entrevista concedida no domingo à noite, Chávez disse não pretender romper relações com a Colômbia, mas disse que uma reconciliação com seu colega era "praticamente impossível". "Seria preciso buscar uma via. Não de reconciliação, porque já é impossível", disse. "Uribe reproduz a voz do império norte-americano, da direita latino-americana." O Departamento de Estado americano se pronunciou pela primeira vez nesta segunda-feira sobre a crise diplomática e disse que o fim da mediação de Chávez é uma decisão soberana do governo colombiano. "O presidente Uribe é um amigo dos EUA e confiamos que ele atua pensando no bem estar de seu país e em conseqüência com os princípios estabelecidos desde o começo", disse o porta-voz do departamento de Estado, Sean McCormack. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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