China acusa Dalai Lama de violar tradição budista

Líder tibetano cogitou mudar escolha de sucessor para evitar influência chinesa.

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Por BBC Brasil
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O governo da China acusou nesta quinta-feira o Dalai Lama, o líder espiritual do Tibete, de desrespeitar as tradições do budismo tibetano ao ter cogitado mudar a forma de escolha de seu sucessor. Em uma entrevista no Japão, nesta semana, o Dalai Lama disse que pensa na possibilidade de ele mesmo escolher seu sucessor por temer que a China possa influenciar o processo. "A reencarnação do Buda vivo é uma forma única de sucessão do budismo tibetano e segue rituais relativamente completos e convenções históricas", disse o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Liu Jianchao. "As afirmações do Dalai Lama obviamente violam os rituais religiosos e as convenções." O governo chinês reivindica soberania sobre o Tibete, que controla desde sua invasão em 1950, mas muitos tibetanos ainda são leais ao Dalai Lama, que vive no exílio. Segundo Chris Xia, analista da BBC, críticos da China dizem que o governo do país está esperando a morte do atual Dalai Lama para impor seu próprio candidato a sucedê-lo. Isso já tem um precedente. Há 12 anos, o Dalai Lama e o governo de Pequim escolheram candidatos rivais para ser o Panchen Lama, que tem parte da responsabilidade de escolher o próximo Dalai Lama e é considerado a segunda figura mais importante do budismo tibetano. O menino escolhido pelo Dalai Lama logo foi preso pelas autoridades chinesas, ficando apenas o indicado pela China - que, segundo analistas, não é reconhecido pela maioria dos tibetanos. Se os tibetanos se recusassem a aceitar um Dalai Lama indicado pelos chineses, eles poderiam acabar ficando sem um líder, o que também poderia facilitar os interesses de Pequim no território. Os budistas acreditam que o atual Dalai Lama é a reencarnação de seus antecessores. Ele foi identificado por um grupo de busca, que procurou nas zonas rurais do Tibete por uma criança nascida por volta da mesma época em que o Dalai Lama anterior tinha morrido. Quando ainda era criança, o atual Lama identificou corretamente pertences e relíquias de seu antecessor. O Dalai Lama sempre disse que, se reencarnar, não será em um país governado pela China ou em qualquer outro lugar que não seja um país livre. O líder espiritual tibetano vive na Índia desde 1959, quando houve uma tentativa fracassada de levante contra o domínio chinês no território. A China é contra o envolvimento do líder espiritual em questões políticas e vê o Dalai Lama como um separatista. Mas o Lama, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1989, diz que quer apenas maior autonomia para o Tibete e que a China deixe de reprimir ativistas tibetanos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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