Um editorial publicado nesta segunda-feira pela agência de notícias estatal da China, Xinhua, acusa a imprensa ocidental de "distorcer" a verdade e agir como "árbitros morais" na cobertura dos confrontos entre tibetanos e chineses, que ocorreram em diversos pontos do país na semana passada. "Certas mídias ocidentais negligenciaram os fatos e apresentaram reportagens distorcidas por mais de dez dias", diz o texto. O artigo pergunta se os veículos de comunicação "entendem a história e cultura do Tibete" e se sabem que "muitas pessoas tibetanas dão valor à atual situação (de liderança chinesa)". A acusação vem em meio a forte discussão na internet fora da China sobre o papel da imprensa ocidental na questão do Tibete. Na edição desse fim de semana, o principal jornal em inglês da China, o China Daily, publicou na capa imagens dos sites da CNN, Washington Post e Berliner Morgenpost, mostrando que as fotografias que ilustravam artigos sobre os confrontos do Tibete seriam, na verdade, imagens fora de contexto. As imagens mostravam soldados nepaleses agredindo manifestantes tibetanos em Katmandu, no Nepal, mas foram publicadas junto com textos sobre Lhasa, no Tibete, o que causaria a idéia de que a violência teria sido perpetrada pelas forças chinesas. Irritação Segundo o jornal, as fotos irritaram chineses usuários da internet que moram no exterior e falam inglês. Esses chineses teriam criticado a imprensa ocidental em salas de bate-papo por não serem fieis aos fatos. Paralelo ao debate, foi publicado na rede os contatos do escritório de Pequim de uma grande organização de mídia americana. O órgão de imprensa acabou sendo inundado por ameaças feitas por telefone e fax. Os jornalistas americanos tiveram que abandonar o escritório temporariamente e agora empregam seguranças extras. Controle de informação O governo chinês exerceu forte controle sobre o acesso à informação durante a cobertura da imprensa internacional dos protestos no Tibete. Assim que os confrontos violentos eclodiram em Lhasa, na sexta-feira 14, a China imediatamente começou a cercear a região, proibindo o acesso de jornalistas à área e expulsando aqueles que se encontravam no local. As linhas telefônicas foram cortadas, cafés com acesso à internet passaram a ser monitorados e sites com relatos sobre a violência dos policiais foram tirados do ar. Por não poder ir ao Tibete, durante a maior parte do tempo, a imprensa internacional teve de depender de apenas duas fontes: o governo da China e o governo tibetano no exílio, que é liderado por Dalai Lama em Dharamsala, na Índia. 'Bando' Segundo a versão oficial apresentada pelos chineses, o "bando do Dalai Lama" premeditou e coordenou a série de protestos que teriam sido totalmente causados por tibetanos "delinqüentes" que teriam atacado civis inocentes e ateado fogo em propriedade de "trabalhadores honestos". A mídia ocidental informou esta versão, mas também reportou o número de vitimas fatais entre os manifestantes tibetanos, que de acordo com o governo no exílio foi de mais de 100. Meios de comunicação estrangeiros também deram espaço a vozes críticas à China, como a da líder da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, que pediu que a comunidade internacional condenasse as ações de Pequim em nome "dos direitos humanos". Segundo o Dalai Lama, as manifestações foram organizadas pelos próprios tibetanos e ele se propôs a deixar de liderar os budistas caso houvesse escalada nos atos de violência. Entretanto, aqueles que residem na China continental, que exclui Macau e Hong Kong, não chegaram a ler a versão dada pelo Dalai Lama. Por causa da censura, os veículos nacionais só circularam as informações divulgadas pelo governo chinês e o acesso a sites internacionais como CNN, BBC e YouTube estiveram bloqueados para usuários da internet dentro do território da China. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.