A Vale deve assinar este ano contratos com a China para venda de minério de ferro baseados em um preço de referência ("benchmark"), que provavelmente ficará entre 30 e 35 por cento acima do de 2009, com grande influência do mercado à vista chinês, avaliou Jonathan Fenby, diretor especializado em China da Trusted Sources, consultoria baseada em Londres. Segundo Fenby, depois de negociações frustradas em 2009, a China quer a segurança dos contratos anuais para garantir o fornecimento de minério para suas siderúrgicas. E, no que depender do país asiático, a preferência pelo "benchmark" deverá estar na pauta não somente nas negociações com a Vale, mas também com outras empresas, disse ele. As companhias da Austrália, no entanto, principalmente a BHP, maior concorrente da Vale, continuam defendendo preços liberados. "A Austrália é a maior barreira para ter benchmark na China", ressaltou Fenby, que acredita novamente em uma mistura de preços de referência e mercado à vista este ano, mas com assinatura de contratos, o que não ocorreu em 2009. "Eles (China) gostam de benchmark, a dúvida é qual volume será dentro do benchmark e qual dentro do mercado à vista", complementou o especialista, que participou de um seminário do setor no Rio de Janeiro nesta terça-feira. No ano passado, o preço do minério foi reduzido na China em cerca de 30 por cento em acordos informais, mas a pressão da demanda fez com que o valor do produto disparasse no mercado à vista. Sem contratos formais, as mineradoras passaram a vender no mercado à vista para recuperar receita. Autor de livros sobre a história da Ásia, Fenby avalia que a Vale está em melhor posição para negociar este ano do que a Rio Tinto, por exemplo, que teve executivos detidos em 2009 durante as negociações de preços. "A Rio Tinto está numa posição mais delicada por causa das prisões, enquanto a BHP está dando sinais de que está sendo mais flexível", afirmou. Ele lembrou que a demanda por minério continua forte na China e que mesmo com os estoques atualmente maiores do que os feitos antes das negociações em 2009, a pressão da demanda torna o aumento de preço inevitável. "Eles estão mais fortes com os estoques, mas estão sendo usados (estoques) pela construção civil, pelos automóveis, que têm demanda grande. A China terá que negociar para garantir o minério", afirmou. Fenby lembrou que a maior preocupação da China é garantir a oferta de 12 milhões de empregos por ano, e isso garante a continuidade da indústria siderúrgica, que é considerada um símbolo de status para as províncias chinesas, "cada uma (província) quer ter uma siderúrgica", explicou. APETITE FORTE Para ele, a China vai continuar comprando muita matéria-prima, e não só minério, com boas perspectivas também para o segmento de alimentos e petróleo, outras áreas fortes do Brasil. "A vantagem do Brasil é ter o que a China quer", disse, referindo-se a produtos como soja, petróleo e outros exportados para o gigante asiático. Fenby, no entanto, vê riscos de medidas protecionistas contra a China dentro dos próximos dois anos, depois que o país mudou de estratégia e resolveu se expor. "Trinta anos atrás quando começou a reforma econômica, a ideia era ter crescimento com pouca visibilidade no mercado internacional, agora está disposta a aparecer, o que é natural, é igual ao Reino Unido no século 19", comparou. Segundo o diretor, a China deve crescer forte até meados de 2010 e, na segunda metade do ano, ter um avanço mais modesto, fechando o ano com alta de 8 por cento no Produto Interno Bruto, patamar que deve ser mantido pelos próximos anos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.