A China lançou ontem, em Hong Kong, o primeiro bônus soberano em yuans, em mais um passo da estratégia de Pequim de ampliar a aceitação e o uso da moeda local fora do país. Os títulos têm valor equivalente a US$ 879 milhões e pagarão 2,25% (prazo de dois anos) e 2,7% (três anos) e 3,3% (cinco anos), taxas mais elevadas que as oferecidas aos investidores chineses no mercado doméstico. As subscrições estarão abertas até 20 de outubro e a expectativa é que a demanda pelos papéis seja elevada. A cotação do yuan é controlada pelo banco central e está estável em 6,80 por dólar desde meados de 2008, quando a crise mundial passou a afetar os exportadores chineses. Mas há uma forte pressão pela valorização da moeda em relação ao dólar e esse movimento deve ser retomado de maneira gradual quando o impacto do terremoto financeiro diminuir, o que é um atrativo para os investidores. O vice-ministro das Finanças da China, Li Yong, disse, na cerimônia de lançamento dos papéis, que "o mercado de bônus em yuans continuará a se desenvolver e vai se desenvolver muito rapidamente". A emissão foi anunciada três dias antes de a China celebrar os 60 anos da Revolução Comunista, no dia 1º de outubro. A negociação dos papéis está a cargo do Banco da China e Banco de Comunicações.O presidente do Banco do Povo da China (o banco central do país), Zhou Xiaochuan, defendeu, no início do ano, a criação de uma moeda para substituir o dólar como reserva global de valor.Dona do maior volume de reservas internacionais do mundo, com pouco mais de US$ 2 trilhões, a China teme o impacto que uma eventual megadesvalorização do dólar possa ter sobre essa montanha de recursos. Mesmo antes da proposta de Zhou, Pequim já havia começado a adotar medidas para ampliar a utilização de sua moeda. Desde o fim de 2008, Pequim fechou acordos de swap cambial no valor de US$ 95 bilhões com seis países, incluindo a Argentina. Em abril, o Conselho de Estado autorizou quatro grandes cidades chinesas a utilizar o yuan no pagamento de importações e exportações.Na época, o governo disse que a medida tinha por objetivo reduzir os riscos decorrentes da flutuação do dólar e estimular as vendas do país ao exterior. O primeiro-ministro Wen Jiabao já afirmou estar preocupado com o impacto que a desvalorização do dólar pode ter sobre os investimentos chineses. Dos mais de US$ 2 trilhões em reservas, quase US$ 900 bilhões estão aplicados em títulos do Tesouro americano.
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