Autoridades responsáveis pelo setor elétrico brasileiro decidiram rever para baixo as projeções de demanda por energia no País. A previsão agora é de queda de 0,6% no consumo de energia em 2009, ante um crescimento de 1,4% projetado anteriormente. Trata-se da segunda revisão negativa feita este ano, em um sinal de que a recuperação econômica poderá ocorrer em ritmo mais lento do que o previsto. A pesquisa, elaborada em parceria entre a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), aponta o segmento industrial como o principal obstáculo ao crescimento do setor. "Passados alguns meses (da primeira revisão, feita em abril), verifica-se que a profundidade e, sobretudo, a permanência dos efeitos da crise afiguram-se mais importantes do que se antevia naquele momento", afirma o texto do documento 2ª Revisão Quadrimestral das Projeções de Energia Elétrica, concluído na semana passada. De acordo com os técnicos responsáveis pelo texto, os impactos da crise foram muito maiores do que os esperados, e provocaram uma queda de 10,8% no consumo industrial entre janeiro e agosto. "Esses novos valores refletem a alteração de expectativa do comportamento da indústria e do crescimento econômico em 2009 e nos anos subsequentes", ressalta o texto. Para os anos seguintes, a previsão é que o consumo vai crescer em taxas anuais entre 6,75%, em 2010, e 4,83%, em 2013. Todos os índices foram revistos para baixo. "O consumo vai continuar crescendo nos próximos anos, mas em ritmo mais lento e de maneira diferente, com menor participação de empresas eletrointensivas voltadas à exportação", comenta o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ (Gesel). A evolução do consumo de energia é apontada como um dos principais indicadores de atividade industrial. E, de fato, o documento ressalta dois setores especialmente afetados pela crise: extrativo mineral e de metalurgia, com reduções de 27,7% e 18,2% no consumo de energia entre janeiro e agosto. SEM APAGÃOEmbora ressaltem que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já houve uma pequena recuperação nas duas atividades industriais, os técnicos da EPE e do ONS concordam que o processo será mais lento do que o previsto. Já os segmentos mais influenciados pelo mercado interno, como residencial e comercial, mantêm bom desempenho, mesmo neste ano. Ambos tiveram alta no consumo de energia superior a 5% e devem manter bom ritmo de crescimento nos próximos anos. Castro, porém, vê um lado positivo na pesquisa: a queda no consumo elimina risco de apagão e garante maior margem para que o governo escolha projetos de geração mais limpos e baratos. As novas projeções apontam que o Sistema Interligado Nacional (SIN) demandará, em 2013, 4,9 mil megawatts (MW) médios a menos do que o previsto anteriormente. O volume é superior às duas hidrelétricas do Rio Madeira. "Essa sobra permitirá que os leilões de contratação de energia nova contratem projetos melhores, seja do ponto de vista do custo, seja do ponto de vista de emissões (de gases do efeito estufa). O governo poderia, ainda, começar a rever alguns contratos de térmicas a óleo que venceram leilões do ano passado", diz o especialista.