O crédito continua a apresentar sinais de recuperação após o tombo da crise. Em agosto, aumentaram os volumes de empréstimo e houve nova redução dos juros. A inadimplência, porém, resiste a cair. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que a média diária de novos financiamentos somou R$ 7,11 bilhões no mês passado, valor 7,3% maior que em julho. O patamar já é 1,2% superior ao de agosto de 2008, antes do agravamento da crise. Apesar da melhora, a inadimplência segue estável em 5,9%. A reação do mercado de crédito é observada, principalmente, pela volta da liquidez nos bancos, o que permite o aumento do volume de operações.No mês passado, a média diária de novos financiamentos às empresas foi 7,7% maior que a registrada em julho. Diariamente, pessoas jurídicas tomaram R$ 4,44 bilhões emprestados nos bancos no mês passado. Na pessoa física, a taxa de expansão foi menor, de 6,7%, e famílias emprestaram R$ 2,67 bilhões a cada dia.A recuperação, no entanto, ainda não conseguiu reverter a situação de algumas empresas, principalmente de menor porte, que, um ano depois do período de maior agravamento da crise, ainda não conseguiram reorganizar as contas. A persistência de restrições na oferta de empréstimos impede que o fluxo de caixa volte ao normal e, por isso, a inadimplência cresce. No segmento empresarial, o nível de calote até subiu pelo nono mês seguido e passou de 3,8% em julho para 3,9% no mês passado, no pior nível desde maio de 2001. Um dado que explica esse fenômeno é que, apesar da recuperação recente, o total de empréstimos concedidos às empresas somava em agosto valor 2,5% menor que o registrado em dezembro de 2008. Para as pessoas físicas, a situação é exatamente oposta e há expansão acumulada de 12,6% no mesmo período. Por isso, o nível de calote nas famílias caiu pelo segundo mês seguido em agosto, de 8,5% para 8,4%.O sinal mais dramático da situação vivida pelas empresas está no cheque especial de pessoa jurídica, que é uma espécie de conta garantida. Na operação, considerada a última opção por ter o maior juro entre as linhas disponíveis no setor empresarial, atrasos superiores a 90 dias cresceram de 4,7% em julho para 4,9% em agosto, o maior nível da série iniciada em junho de 2000. Isso quer dizer que quase 5% dos clientes estão com a conta corrente no vermelho há pelo menos três meses. O calote já soma R$ 2,27 bilhões. Fenômeno parecido acontece em outras operações corriqueiras nos departamentos financeiros, como o desconto de notas promissórias e duplicatas. Nem mesmo a redução do juro médio cobrado das empresas, que acumula redução de 4,7 pontos no ano, alterou o quadro. "A situação da inadimplência na pessoa jurídica deve demorar mais um ou dois meses para se estabilizar", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, que vê sinais positivos à frente. "Os atrasos inferiores a 90 dias já estão caindo e o volume de novas operações tem crescido", observou.Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a diferença entre o crescimento mais elevado das operações com pessoas jurídicas mostra que, finalmente, o crédito corporativo se recupera. "O crédito para pessoas físicas já se recuperou porque tem crescido consistentemente desde junho. Já o crédito para pessoas jurídicas só agora começa a dar sinais de retomada", afirma em relatório. Ao fim do mês de agosto, a soma de todos os empréstimos concedidos pelo sistema financeiro somava R$ 1,326 trilhão, com expansão de 1,5% ante julho. A cifra já equivale a 45,2% do PIB.FRASESAltamir LopesChefe do Departamento Econômico do BC"Os atrasos inferiores a 90 dias já estão caindo e o volume de novas operações tem crescido"José Francisco de Lima GonçalvesEconomista-chefe do Banco Fator "O crédito para pessoas físicas já se recuperou porque tem crescido consistentemente desde junho"
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