Criança some em bairro alagado

Enchente ainda afeta 154 famílias do Jardim Helena, na zona leste; casas de sete bairros estavam ilhadas ontem

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Pelo menos 2 mil famílias, moradoras no Jardim Helena, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, foram atingidas pela enchente do Rio Tietê, após as fortes chuvas de terça-feira. Os dados da Defesa Civil indicam ainda que 154 famílias estão desabrigadas e uma criança está desaparecida. As casas dos sete bairros que compõem o Jardim Helena e margeiam o Tietê continuavam ilhadas até o fim da tarde de ontem. E a previsão é de mais chuvas para os próximos dias.No Jardim Romano, onde está o Centro Educacional Unificado (CEU) Três Pontes, interditado depois do temporal, a capota de uma Kombi chegou a ser usada como balsa para transportar os moradores ilhados. Sullivan Brandão da Silva, de 24 anos, herdou a "embarcação" do pai, que a construiu com essa finalidade nas cheias dos anos 90.Com um bambu na mão e outro de reserva, Sullivan transporta quatro adultos ou oito crianças de uma ponta a outra da Rua Capachós, que ainda está encoberta pela água. Cobra R$ 1 ou R$ 2 - se for preciso esperar, por exemplo, alguém fazer compras. "Mas o bom mesmo é poder ajudar. Quando a pessoa não pode, nem cobro nada", diz o "balseiro". Mas nem todo mundo pode esperar pela balsa improvisada. Anteontem de madrugada, o aposentado Hozanar Ferreira da Silva, de 73 anos, garante ter visto um morador apoiando-se nas paredes das casas com uma perna de pau, para evitar se molhar. A maioria, no entanto, não tem alternativa e se lança para dentro da água suja e malcheirosa sem nenhuma proteção. No Jardim Fiorello, bairro vizinho, as galochas viraram moda entre os moradores. E as adolescentes gostam até de exibi-las com vestidos curtos.Segundo os moradores, não há aula em nenhuma unidade do bairro. A Secretaria de Estado da Educação negou a informação e a Prefeitura não respondeu. O CEU Três Pontes estava interditado - crianças e adolescentes acabaram usando a piscina ontem à tarde - e uma outra unidade foi usada como alojamento para as famílias desabrigadas.A Subprefeitura de São Miguel estima que 4 mil casas do Jardim Helena foram erguidas, irregularmente, na várzea no Rio Tietê, há mais de duas décadas. Segundo a subprefeitura, muitas delas estão no mesmo nível do rio e alagam com qualquer chuva. Além disso, a barragem da Penha, que regula o volume de água do Tietê, está depois do Jardim Helena. Qualquer represamento faz o nível do rio aumentar e prejudicar as casas mais próximas da margem. Com as 14 horas de chuva ininterrupta no início desta semana, o Jardim Helena ficou submerso. Como não há vazão, a subprefeitura informou que "não há o que fazer" a não ser esperar para que a água volte para o rio. Os desabrigados estão sendo atendidos pela Promoção Social e recebem colchões, kits de limpeza e higiene e roupas. COLABOROU LUISA ALCALDE

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