Energia e integração regional devem ser os principais assuntos da visita a Brasília da presidente eleita da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, nesta segunda-feira. Numa viagem de poucas horas, Cristina se reunirá com o presidente Lula e com diretores da Petrobras e de outras companhias brasileiras que investem na Argentina, como informou a agência oficial argentina Telam. A presidente toma posse no dia 10 de dezembro. Lula já confirmou que estará presente à cerimônia em Buenos Aires, de acordo com diplomatas dos dois países. A visita de Cristina a Brasília ocorre num momento de preocupação sobre a capacidade de fornecimento do gás boliviano aos dois principais sócios do Mercosul, Brasil e Argentina. Recentemente, a Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, com sede em Santa Cruz de la Sierra, e analistas bolivianos do setor, alertaram para a queda na produção do gás na Bolívia. Segundo eles, os números mostram que o Brasil e o mercado interno boliviano têm recebido prioridade nesta equação de abastecimento. Eles informaram que a Argentina tem recebido menor quantidade de gás do que o estabelecido por contrato com a Bolívia, como reconheceram assessores do governo argentino. O jornal argentino Clarín afirmou que, por esta razão, Cristina poderia reativar, durante sua viagem, a discussão sobre o projeto binacional de construção da central hidrelétrica Garabí, no rio Uruguai, que aumentaria a capacidade energética dos dois países. O assunto, de acordo com o Clarín, seria discutido, nesta segunda-feira, entre a ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff, e o ministro do Planejamento do governo Kirchner, Julio de Vido, confirmado no cargo no futuro governo de Cristina. Além das preocupações comuns de abastecimento de gás, especula-se, na imprensa argentina, que Cristina poderia conversar com Lula e com diretores da Petrobras sobre os investimentos da companhia no país. A empresa está instalada na Argentina há mais de cinco anos e estaria interessada, como admitiram alguns de seus assessores recentemente, na compra da rede de postos Esso na região. O assunto gera expectativas principalmente no mercado argentino, e foi notícia nos jornais econômicos do país vizinho, como El Cronista Comercial e Ámbito Financiero. Além das questões energéticas e da discussão sobre a eliminação do dólar das transações comerciais entre os dois países, a visita de Cristina gera expectativas políticas na Argentina. "Tomara que esta visita signifique que o governo de Cristina estará mais próximo do governo Lula do que do governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, da Venezuela", disse o comentarista da rádio del Plata Alfredo Leuco. "Estar hoje ligado ao Brasil e ao Chile significa estar ligado ao mundo. Mas estar vinculado a Chávez significa o abismo", disse. O jornal La Nación publicou, neste domingo, uma reportagem afirmando que Cristina quer intensificar, em seus quatro anos de governo, a relação de seu país com o Brasil. "Primeiro o Brasil, depois o mundo", escreveu o jornalista Lucas Colonna, do La Nación. "Cristina pretende deixar claro que a aliança estratégica, daqui para frente, será mais com Brasil do que com a Venezuela", disse ele. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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