Cultura pop tipo exportação

Historicamente acostumados a aproveitar influências estrangeiras, os orientais recriaram seu mundo

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Ironia do destino. Foi justamente depois da 2.ª Guerra Mundial, da qual saiu derrotado e sem seu poderoso Exército, que o Japão conseguiu invadir o mundo. Desenhos animados, séries de TV, videogames, macarrão instantâneo, sushis e sashimis tomaram o planeta de assalto. E o Brasil foi um dos mais afetados pela força da cultura japonesa.   Somos o único país onde o macarrão semipronto ganhou nome próprio, Miojo. E a gatinha Hello Kitty é tão popular por aqui que existem 17 lojas, em 9 capitais, destinadas a vender somente produtos relacionados com a personagem e sua turma.   - Todos se renderam ao Miojo - Power Rangers ‘made in Brazil’   "Neste exato instante, gerações de crianças pelo mundo estão crescendo diante de Power Rangers na tevê, colecionando cards de personagens de animês, cantando em videokês, jogando Pokémon em Gameboys e comendo lámen instantâneo", escreveu Cristiane Sato no livro Japop - o Poder da Cultura Japonesa (Editora NSP Hakkosha).   Essa cultura de olhos puxados foi descoberta no século 16 pelos portugueses, que ficaram 70 anos no país. Deixaram por lá algumas palavras - pão, em japonês, é pan. Os lusitanos também foram os responsáveis por apresentar à Europa o que se tornaria o primeiro símbolo cultural japonês globalizado: a katana, nome dado à espada usada pelos samurais. Foi uma febre pelos produtos vindos do Japão, interesse que posteriormente se estendeu à China.   Mas essa abertura para o mundo durou pouco e o Japão voltou a se fechar, desta vez por um período de quase 300 anos. O País só tornou a abrir seus portos no fim do século 19. E iniciou um processo de modernização, depois de extinguir a ordem samurai (retratado no filme O Último Samurai, com Tom Cruise). Houve nova demanda por produtos japoneses na Europa, mas sem grande impacto: até então, a cultura oriental era vista apenas como exótica.   Uma visão que começou a mudar a partir da 2.ª Guerra e da ocupação americana. "Vários ícones se tornaram universais: Elvis, rock’n’roll, Marilyn, Superman, Mickey, hambúrgueres, Barbie. Nenhuma nação ocidental no pós-guerra ficou imune. No Oriente, a situação não foi muito diferente", diz Cristiane.   Foi nesse contexto que o pop japonês construiu suas bases. Historicamente acostumados a aproveitar influências estrangeiras, os orientais recriaram sua cultura. "Ocidentalizada na forma, mas nipônica no conteúdo." O consumo interno de produtos culturais explodiu. Na década de 1950, surgiu Godzilla, seguido pelos chanbara eiga - os filmes de samurai feitos pelos Estúdios Toei - e pela música popular, com sonoridade ocidentalizada e vocalistas japoneses.   Na década de 60, os EUA começaram a exibir desenhos japoneses, como o Astro Boy, ainda sem a força que teriam nos anos seguintes. Mas a grande virada ocorreu nos anos 1990: de país influenciado, o Japão passou a criar tendências e virou sinônimo de produções de qualidade, como A Viagem de Chihiro, que levou o Urso de Ouro em Berlim e o Oscar de melhor animação. Filmes como Matrix têm aberta inspiração nipônica - e Hollywood começou a criar versões de sucessos do cinema japonês. O mundo foi definitivamente conquistado.

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