Não é de hoje que tentam associar movimentos por democracia com a influência das redes sociais, twitter, etc. Os acontecimentos no mundo árabe, iniciados na Tunísia, também foram explicados assim, como se o Facebook fosse o estopim libertário. Mas é bom não confundir meio - mídia - e fim. Os conflitos no Egito, por exemplo, são produto do desgaste de trinta anos da ditadura de Mubarak, e depois das tentativas de bloquear internet e celular quem está literalmente apanhando são os jornalistas profissionais. E isso por um motivo tão antigo quanto a política: todo tirano começa seu governo querendo exercer o controle sobre a informação. Não basta a força policial; é ainda mais fundamental manter a propaganda oficial acima da contestação da imprensa séria, promovendo a lavagem cerebral dos cidadãos convertidos em manada.
Durante a queda em dominó dos regimes ditos comunistas, no final dos anos 80, a TV teve papel importante. A mera divulgação de outros padrões de consumo, que envolvem a liberdade de se divertir e de não viver de acordo com a necessidade ditada por um grupo de burocratas, ajudou a Europa Oriental a ver a mentira em que vivia. Antes, os governos autoritários, como o de Getúlio Vargas e seu Departamento de Imprensa e Propaganda - assunto que ainda merece muitas pesquisas e livros -, sempre tentaram reagir não apenas com a censura, mas com a sobreposição de um discurso único, de exaltação patriótica, que às vezes demora gerações para ser desconstruído. Mas, por mais que eles tentem controlar a internet, como na China, ou utilizar as informações que nela circulam para monitorar as pessoas, a multiplicação dos meios de comunicação foi a pior notícia que poderiam receber. Só mesmo os cínicos não comemoram o fato de que hoje há mais democracia no mundo do que em qualquer época.
Essa, porém, é apenas uma parte da história. O apoio de EUA e Israel a Mubarak, como nas décadas de 50 a 70 a qualquer regime anticomunista, é justificado como um mal necessário para bloquear a suposta ascensão de fanáticos islâmicos. Esse tipo de diplomacia, de "realpolitik", é que deveria estar com os dias contados. Se continuarem a tratar o Islã como incompatível com a democracia, aí sim essas forças tendem a crescer. Um regime democrático, plural e pacífico no Egito teria o poder de influenciar toda a geopolítica da região, apesar da resistência autocrática em elites como a saudita. E uma vez que esse processo ganhe consistência, se tiver o apoio de líderes como Barack Obama, ele mesmo um fenômeno amplificado pela Web, seguramente a nova mentalidade ganhará as redes sociais. De nada adianta ter uma página apenas para contar que o calor está forte; o que precisamos é de um Mindbook.
("Sinopse")