Soube que Bolaño pretendia provar com eles que era capaz de fazer ficção de fôlego, de grande dimensão, não apenas contos e novelas. Deixou instruções para que 2666 fosse publicado em cinco partes, e o fato de ter dado um título ao conjunto justificou que sua família o publicasse num único volume. Mas confesso que achei chato. Bolaño ora assume um tom secamente objetivo, quase relatorial, ora solta sua conhecida verve, sobretudo contra "círculos intelectuais", como fizera em Detetives Selvagens. Mas a energia de sua imaginação crítica se perde na infinidade de referências e em frases sem cor como "Lia um gibi e tinha alguma coisa na boca, provavelmente uma bala" e no abuso de "então" como locução.
Sei que o efeito é intencional, mas os fatos vão se encadeando e os personagens se acumulando, entre cenas de sexo e violência, mas são poucas as recompensas, quer linguísticas, quer existenciais. A história gira em torno da busca de quatro intelectuais por um autor recluso, com o pomposo nome Benno von Archimboldi. A última parte, que se passa na Segunda Guerra, ganha do tema uma força maior, apesar de frases como "o amor é a aparência da paz". Desconfio que boa parte do prestígio de Bolaño venha dessas tramas sobre escritores, desse pós-modernismo sem muito artifício. Prefiro muito mais o Bolaño dos livros curtos ou, para ir atrás, Borges e Onetti, cada um em seu estilo.
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