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Diário da Copa 37 - Gostar da bola

O jogo teve a cara de muitas decisões: primeiro tempo travado, tenso, segundo tempo mais aberto, gol solitário na prorrogação. E a vitória teve a cara da Espanha, que fez por merecer por seu jogo técnico, preocupado com a bola, tocado por jogadores habilidosos. Iniesta coroou a fase, a Copa e a partida que fez com seu belo gol. A Holanda conseguiu anular a armada espanhola por bons períodos, mas recorreu demais às faltas e de menos às finalizações, e depois foi condenada nos dois quesitos. A Espanha leu melhor o jogo e lhe deu o fecho mais digno.

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Por danielpiza
Atualização:

A bem da verdade, foi uma partida chata, especialmente no primeiro tempo, com muitos amarelos, e em alguns momentos teve jeito de que iria terminar nos pênaltis, como a Copa de 2006. Mas a Jobolani não quis punir o time que melhor a tratou nos últimos dias, rolando de pé em pé até tirar a paciência do adversário. No segundo tempo, como o meio estava congestionado pela marcação avançada dos holandeses, os espanhóis começaram a achar espaços pelas pontas, principalmente com Sergio Ramos pela direita. Villa saiu do meio dos zagueiros e foi incomodar pela esquerda, chegando a perder um gol na pequena área.

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Nesse momento a Holanda já não conseguia tirar a bola de Xavi e Iniesta e passou a tentar os contra-ataques. Sneijder, que não vinha aparecendo muito, acionou Robben em velocidade, mas Casillas salvou a pátria. Robben teve outra chance, de novo em profundidade, mas foi atrapalhado por Puyol e Casillas. O técnico espanhol, Vicente del Bosque, tirou Xabi Alonso e pôs Cesc Fabregas, que deu mais leveza ao time e criou duas boas chances, igualmente desperdiçadas. A Espanha era dona da prorrogação, Heitinga foi expulso e o gol de Iniesta veio quatro minutos antes do final. Para mim, apesar de Forlán ter realmente feito uma excelente Copa, Iniesta deveria ter sido eleito.

A Copa não se encerrou com um jogo bonito, mas o troféu foi para quem mais tentou jogar bonito; a bola gosta de quem gosta dela. Ao mesmo tempo, o placar exíguo refletiu o torneio todo, que nesse aspecto ficou no mesmo patamar da Copa de 1990, e ainda por cima o juiz cometeu um erro ao não dar escanteio para a Holanda pouco antes do gol. De qualquer modo, a Copa da África do Sul teve a grande vantagem de exibir um campeão inédito e merecido. Ao contrário do que muita gente previa, não foi uma Copa de defesas retrancadas, esquemas de contra-ataque, finalizações escassas. Foi sim a Copa dos gols perdidos, das táticas previsíveis, dos craques apagados. O time que soube controlar a bola, variar jogadas e exercer talento foi, logicamente, o que se saiu melhor.

Agora é cobrar para que o Brasil organize uma boa Copa, para a qual já está atrasado, e a Fifa faça mudanças para diminuir erros de arbitragem e estimular a qualidade dos jogos. E que a CBF seja menos arrogante e mais transparente e monte uma seleção realmente renovada, que se inspire na atual campeã e volte a gostar da bola.

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