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Gostar de futebol

Não dá para não pensar, diante de violências de torcedores e gatunagens de dirigentes, na aparente contradição que é comentar futebol como alguém que defende o esporte pela beleza de seu jogo e pela riqueza de sua simbologia. Será que não estamos promovendo um assunto que gera mais irracionalismo tribal do que prazer e inspiração? Mas não. Essas pessoas que descarregam suas frustrações numa simples partida de bola não gostam de futebol; gostam de catarse, de torcer contra; não gostam de se divertir, de torcer a favor. Não me importam as versões dos conflitos ocorridos no Morumbi domingo. O que ninguém vai mudar é a observação óbvia de que os dirigentes incitaram a situação e de que muitos torcedores são vândalos potenciais.

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Por danielpiza
Atualização:

Essas pessoas devem ser cobradas e as situações evitadas. Mas há muitas outras pessoas que admiram o futebol pelo que é, não para se sentir superior ao vizinho. O chato é que também elas não tiveram muitos consolos dentro de campo. O tal clássico "Majestoso" ficou mais para plebeu, pedestre, pequeno. O São Paulo entrou com time reserva e Mano Menezes escalou mal o Corinthians. A maioria dos jogadores estava mais interessada em cometer falta do que em criar lances. O juiz, defendido em 99% das decisões pelos colegas que comentam na TV, esqueceu a velha dica de esfriar o jogo no começo quando ele se mostra tenso demais. Quando será que jogadores voltarão a jogar bola e o assunto dos jornais será a partida e não o "clima" antes e depois?

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Ironicamente, os dois gols foram bonitos. No primeiro, a jogada foi iniciada por um titular que estava no banco, Hernanes, cada vez mais um camisa 10 digno do número, e completada por outro, Borges, jogador de área que pelo menos sabe manter a calma diante do goleiro, ao contrário de André Lima. E no gol do Corinthians foi um menino recém-chegado da base, Boquita, interessado mais em mostrar serviço do que em trocar sopapo, que lançou André Santos na grande área. Mas, embora os resumos da rodada só mostrem os gols, eles não salvam o fraco futebol, de baixo nível técnico, que o zagueiro André Dias tão bem apontou no intervalo.

Os corintianos devem ter saído cabreiros, antes de mais nada, com sua equipe. Túlio foi tolo e deu um soco leve na barriga de André Dias, merecendo a expulsão. Mano, normalmente razoável, não poderia ter reconhecido o erro do volante? Ao menos reconheceu o seu, de entrar sem referência no ataque, em face da melhor defesa do Brasil, que joga com três zagueiros... Todos os clubes em vantagem nos campeonatos mundo afora têm um camisa 9 e mais dois atacantes ou meias-atacantes que chegam e finalizam bastante também. O Corinthians, com Douglas e Morais fora de ritmo e sem Souza, praticamente convidou o São Paulo para ditar o ritmo. Como Júnior César e Arouca são capazes e querem ser titulares, assumiram o comando do meio.

Na semana passada, escrevi que alguns clubes perceberam quais eram suas deficiências no ano passado e souberam supri-las para a temporada atual. Foi o que fez o Palmeiras, que joga com Keirrison de referência, Willians se movimentando, Diego Souza e Cleiton Xavier vindo para armar e chutar. Isso deu a velocidade que faltava ao time; resta ver se a zaga resiste a testes reais. O São Paulo deu a Muricy o banco que tanto pedia; quase toda posição tem briga boa entre dois candidatos. Mas o Corinthians, mesmo quando tiver Ronaldo, ainda terá problemas, como alguém para dividir criação com Douglas. E o Santos continua a sofrer com zaga ruim e falta de meia e lateral pela direita.

Se gostassem mesmo de futebol, os cartolas estariam preocupados com essas questões, e não com juízes e rivais. E muitos torcedores também.

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("Boleiros")

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