Ontem não pude escrever aqui porque viajei ao Rio. Eu poderia fazer igual a certos cronistas da cidade que descrevem a maravilha que é percorrer o trajeto Flamengo - Ipanema - Jardim Botânico - Leblon, para citar os que fiz entre ontem à noite e hoje de manhã, e não sofrer nem presenciar o menor sinal de violência, esse tema que a mídia insiste em atrelar à imagem do Rio... Ou então eu poderia fazer como o motorista que, durante a conversa sobre o domínio dos morros pelos traficantes, repetiu o bordão sobre "o pessoal dos direitos humanos" que fica sempre do lado dos bandidos. Mas o fato é que é preciso ajustar essas visões, cair fora dessa polarização; Zuenir Ventura chamou o Rio de "cidade partida" e isso começa nas mentes. Sem catastrofismo, já passa da hora de enfrentar a realidade tal como ela é, sem antepor o Rio "bossa nova" que aparece na telenovela ao Rio "guerra civil" que aparece no noticiário. Afinal, o Estado paralelo está cada vez mais oblíquo, embutido nas instituições, e os políticos preferem fingir soluções - como a presença da Força Nacional por não sei quanto tempo - a prejudicar interesses e suportar reações. Entre contemporizar e fuzilar, há uma vasta gama de atitudes a serem tomadas.