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Sebald, coragem e literatura

Citei na semana passada o escritor Robert Walser, cujo romance Jakob von Gunten - na verdade um romance em fragmentos, na forma de um diário - foi publicado recentemente no Brasil, mais de cem anos depois. Um dos autores contemporâneos de língua alemã que mais o estudaram foi W.G. Sebald, um baita escritor, infelizmente morto em 2001, também de modo precoce. Dele é publicado agora Guerra Aérea e Literatura (Companhia das Letras, tradução Carlos Abbenseth e Frederico Figueiredo), que é um exemplo de como desafiar a cultura estabelecida de seu próprio país. Sebald, autor de livros inesquecíveis como Austerlitz e Os Emigrantes, analisa a recusa e a dificuldade dos escritores alemães de retratar os bombardeios e sofrimentos infligidos a esse povo durante a Segunda Guerra Mundial. Mostra o problema até mesmo nos que correram esse risco, com medo da represália moral, quando o dever da literatura é descrever todos os lados das questões.

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Por danielpiza
Atualização:

Sebald diz coisas como: "A capacidade do ser humano de esquecer o que não quer saber, de não fazer caso daquilo que está diante do seus olhos, poucas vezes foi posta à prova de forma tão rigorosa como na Alemanha daquele tempo. Em um primeiro momento, o puro pânico determinou a decisão de prosseguir como se nada houvesse acontecido." Mas, no segundo momento, quando a verdade histórica deveria aparecer até para que não se repetisse, poucos autores estiveram à altura. A coragem de Sebald era intelectual e moral. Ave rara.

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