De acordo com levantamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) – cuja divulgação dessa vez contou, não por acaso, com a presença do prefeito –, a diminuição foi, em números absolutos, de 637 para 519 mortos, o menor índice para o período desde 2005. Para Haddad, isso é consequência direta de ações desenvolvidas por seu governo, entre as quais ressaltou a criação de faixas de pedestres, lombadas eletrônicas, a redução do limite de velocidade em grande número de ruas e avenidas e a implantação das ciclovias. E fez questão, evidentemente, de dizer que não vê ligação entre a redução dos acidentes e a crise econômica, ao contrário do que sustentam bons conhecedores do problema.
Haddad também reivindica para seu governo o mérito pela melhoria do trânsito no primeiro semestre. Um exemplo dessa melhoria é o aumento da velocidade média dos deslocamentos durante o dia, de 14 km/h para 18 km/h. Para ele, isso se deve às faixas exclusivas de ônibus, que multiplicou de forma atabalhoada, e à redução da velocidade, que ajudaria a dar maior fluidez ao trânsito.
A melhoria do trânsito e a redução dos acidentes estão intimamente ligadas e, por sua vez, têm, sim, relação direta com a grave crise econômica por que passa o País. O consultor Sérgio Ejzenberg, por exemplo, chama a atenção para algo que qualquer observador atento percebe facilmente: o aumento da velocidade média decorre da diminuição do número de carros em circulação e esta está ligada à redução da atividade econômica. “O comportamento do trânsito”, diz ele, “é reflexo direto da crise, que deixa as lojas vazias e reduz o comércio.”
Opinião corroborada pelo vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Antônio Carlos Pela, que relaciona o trânsito menos intenso com a redução do número de fretes. Para ele, a menor movimentação econômica derruba a demanda pelo transporte comercial terrestre. Dados apurados pela associação indicam que no primeiro semestre as vendas caíram 3,9%.
Outro elemento que explica a diminuição do número de carros nas ruas da cidade é o alto preço dos estacionamentos. Com o aumento do desemprego e a queda da renda provocados pela crise, a dificuldade de pagar estacionamento também colabora para que muitos optem por deixar seus carros nas garagens.
O governo Haddad montou um circo em torno das medidas adotadas para fazer uma “revolução” nos transportes – na verdade simples fogos de artifício – e não iria, é claro, perder a oportunidade de tentar marcar pontos relacionando-as, contra todas as evidências, com a maior fluidez do trânsito e a redução do número de mortos em acidentes. A única medida séria e consistente para a melhoria do serviço de ônibus – a ampliação da rede de corredores – está marcando passo, porque os projetos, mal elaborados, sofrem restrições do Tribunal de Contas do Município (TCM).
Exprimindo perfeitamente o que pensa o governo, Tadeu Duarte, diretor da CET, assim explica a presença de menos carros nas ruas: “As pessoas perceberam o benefício de usar outros meios”. A palavra benefício não cabe para ônibus superlotados e lentos. E considerar a bicicleta outro meio de transporte relevante, quando se observam as ciclovias entregues às moscas, não é coisa para se levar a sério.
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