"Pode me ajudar?" "Ah... Talvez os soldados norte-americanos ou a Cruz Vermelha lá em cima possam". "Não. Você pode me ajudar? Preciso que você ajude meu bebê". A haitiana que levava uma criança ferida e febril me pegou desprevenido enquanto eu fazia algumas entrevistas com sobreviventes do terremoto em um campo de refugiados. Olhando nos meus olhos, com uma insistência digna, ela fez uma pergunta que se insinua desconfortavelmente na cabeça de correspondentes estrangeiros há gerações: podemos ajudar? Às vezes, como ocorre no Haiti nestes dias sombrios desde o terremoto do dia 12, o cronista não pode evitar se tornar participante, por mais que deseje usar o notebook ou a câmera como escudos. O rosto daquele bebê estava tão coberto de cortes, pus e feridas que era difícil de olhar. Em torno dele, no mesmo acampamento, havia 50 mil refugiados. Além dali, em uma miríade de acampamentos, havia centenas de milhares mais: desabrigados, famintos e machucados pelo terremoto. Não estavam lá, porém, para servirem de objeto de pena: muitos realizavam atos de heroísmo dos quais nós, escribas que proliferávamos como ervas daninhas, jamais seríamos capazes. Então nós ajudamos? Nós, as hordas que saltamos dos aviões para as boleias de caminhões, para reportar o desastre natural que colocou o Haiti terrivelmente de volta no mapa-múndi? Nossas incontáveis palavras e imagens certamente ajudaram a galvanizar uma reação internacional sem precedentes. Nossas visitas aos rincões de Porto Príncipe, onde ninguém estava recebendo nada, devem ter dado urgência e direção à entrega de ajuda. Demos voz aos desabrigados, e nossas reportagens sobre os resgates nos escombros e a solidariedade dos haitianos nas ruas trouxeram esperança. Para os detratores, porém, a mídia mais uma vez saltou dentro de uma tragédia a fim de explorar o sofrimento alheio, atrapalhar as equipes de resgate e desperdiçar recursos preciosos como gasolina, comida e água, necessários para manter nossas custosas operações. "UMA BOA AÇÃO POR DIA" E no longo prazo? Organizações como a minha mantêm um repórter em tempo integral no Haiti. A casa de Joseph Guyler Delva desabou, e ele mandou mulher e filhos para o Canadá, mas continua mandando notícias do seu país, e continuará a fazê-lo dia após dia, mesmo bem depois que os correspondentes que vieram "de paraquedas" já tiverem partido. Apesar disso, o interesse da mídia vai se apagar conforme os dias e semanas passarem, justo quando o Haiti mais precisa que o mundo fique ao seu lado no longo prazo. Jornalistas veteranos do mundo inteiro vieram cobrir o desastre haitiano, e foi interessante ver como lidaram com a questão tantas vezes entredita da ajuda: o que fazer primeiro, fotografar ou recolher o bebê ferido? Alguns poucos se atiraram no esforço de auxílio, ajudando a transportar os feridos para postos médicos, fazendo algum atendimento médico básico, ou tentando encontrar os pais desaparecidos de crianças. Outros aplacaram suas consciências fazendo "uma boa ação" por dia. Alguns se ativeram ao seu trabalho, entendendo não ter capacidade ou vocação para aquilo que tantos médicos, soldados e agentes humanitários estavam lá para fazer. Cruzando a fronteira do Haiti para a República Dominicana, antes de embarcar de volta para casa, essas questões zumbiam na minha mente enquanto caminhões carregados de ajuda passavam correndo na direção contrária. Qualquer orgulho profissional no trabalho da semana passada parecia irrelevante, quase ofensivo. Imagens de missões anteriores no Iraque, na Somália e no Peru se alternavam em uma mente sonolenta e estressada. Furacões, conflitos, acidentes aéreos, deslizamentos e atentados a bomba se fundiam com as angustiantes visões e odores de Porto Príncipe. A questão da ajuda ardia mais ao fundo. O bebê? Ele recebeu tratamento, não se preocupe. Se eu ajudei? Simplesmente não sei.