O diretor técnico do Departamento de Ensaios da Embraer, Sérgio Mauro Costa, afirmou nesta sexta-feira, 20, em depoimento à Polícia Federal, que foram realizados sete testes com o jato Legacy, que se chocou com o Boeing da Gol, no último dia 29 de setembro, matando 154 pessoas. Ele garantiu que todos os equipamentos do aparelho estavam funcionando, inclusive o transponder e o dispositivo anti-colisão e negou qualquer irregularidade com o plano de vôo. Costa foi ouvido por duas horas pelo delegado Renato Sayão, na Coordenação de Aviação Operacional (Caop), divisão da PF e Brasília, que investiga acidentes aéreos. Sayão, que é encarregado do inquérito, considerou as informações insuficientes. Acompanhado de três advogados da Embraer, fabricante do avião, o diretor não apresentou qualquer comprovação dos testes, pediu sigilo do nome da empresa que fez o plano de vôo e ficou devendo vários documentos atestando a regularidade do aparelho. Ele deve prestar novo depoimento. Entre os documentos não entregues estão a homologação do vôo RVSM (por instrumentos em grande altitude), atestado de aeronavegabilidade, a certificação da aeronave e a comprovação dos testes, quatro deles supostamente feitos internamente pela Embraer e três de aceitação, em conjunto com os compradores. Também não foi entregue a versão em português do manual da aeronave. O delegado ficou sem saber também se os pilotos americanos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, cujos passaportes estão apreendidos pela PF, participaram de algum teste de reconhecimento e se fizeram o briefing, uma praxe antes de qualquer vôo, para memorização das coordenadas do plano e para tirar todas as dúvidas, como a de mudança de altitude. O Legacy bateu no Boeing da Gol porque estava na contramão, voando a 37 mil pés de altitude, quando devia ter baixado para 36 mil pés na passagem por Brasília. Sayão queixou-se de que até agora, três semanas após o acidente, não recebeu os documentos prometidos pela Aeronáutica, apesar de ter feito o pedido ao Ministério da Defesa e de ter atendido todos os requisitos burocráticos. Só com esses documentos em mãos, entre os quais, a transcrição dos diálogos dos pilotos com os controladores do Cindacta em terra será possível avançar nas investigações e fechar a agenda de depoimentos. Por isso, Sayão disse que pedirá à Justiça Federal mais prazo para a investigação, no relatório que enviará no próximo dia 5 de novembro. Para o delegado, é fundamental que os pilotos não saiam do Brasil enquanto não forem interrogados para esclarecer as dúvidas e contradições do primeiro depoimento, dado à Polícia Civil do Mato Grosso no dia seguinte ao acidente. "Caso eles consigam habeas-corpus eles terão que vir buscar os passaportes e então tomaremos os depoimentos".