Ela amamentou um bebê desconhecido

Criança chorava de fome em incêndio

No início da noite de 11 de outubro, enquanto o fogo consumia os barracos da Favela Diogo Pires, no Jaguaré, zona oeste da capital paulista, uma jovem mãe amamentava um bebê desconhecido. A cena comovente era protagonizada pela desempregada Janaína Aparecida Matheus Miranda, de 22 anos, mãe de quatro filhos - o mais velho, de 8 anos; o mais novo, de 1. Como pano de fundo, um incêndio que deixou cerca de 350 famílias desabrigadas. Ela não morava na favela, mas tinha muitos conhecidos por ali - seu apartamento fica em um conjunto habitacional a poucas quadras da Diogo Pires. "Eu tinha saído para comprar leite e vi um monte de helicópteros. As pessoas comentavam que tudo estava pegando fogo", recorda-se. "Não pensei duas vezes: corri lá para ajudar." Quando chegou ao local, deparou-se com um bebê chorando. "Aquilo me dava agonia. Sabia que era choro de fome", diz, com a experiência de quem tem filho pequeno em casa. "Até a mãe aparecer, dei de mamar à criança."Não foi só isso. "Fiquei até as 6 horas ajudando as pessoas a salvar o que podiam", relata. "E ainda recebi uma amiga aqui em casa por dois dias. A porta (de seu pequeno apartamento, de dois quartos, onde vive com os filhos e o marido) fica aberta e meu coração é grande." HISTÓRIAPaulistana de Santo Amaro, Janaína conta que, quando pequena, foi abandonada pela mãe em uma caixa de papelão. Não se recorda dela - tudo o que sabe foi dito pelo pai e pelos irmãos, que eram 10 (dois deles já morreram). Estudou até a 2ª série do ensino fundamental. "Fui criada largada mesmo", frisa. "Se eu contar toda a minha história, vocês nem acreditam." Passou parte da vida como moradora de rua e enfrentou toda sorte de dificuldades - já perdeu um barraco queimado, quando morava em uma favela da zona sul.Essa imagem, aliás, lhe veio à cabeça quando ela presenciou o incêndio da Diogo Pires. E, por isso, faz questão de afirmar que fará o mesmo em situações semelhantes, sempre que necessário. "Quero ajudar sempre", repete. Seu sonho é um dia reencontrar a mãe. "Quem sabe ela não vê essa foto que vocês tiraram de mim e não vem me procurar? Um dia ainda quero poder passar o Natal junto com ela."