Com um segundo turno apertado, ganhei a responsabilidade de representar os colegas e vender nossas ideias para o editor. Eu tinha em mãos um mês de trabalho que começou com 30 temas e depois foi filtrado para seis que passaram por um cuidadoso processo de desenho de pautas e estudo de viabilidade. Por fim, fechamos os três favoritos em mais uma eleição.
Para "vender" o caderno, isto é, convencer o editor que nosso mês de trabalho tinha resultado em três opções interessantes de temas, resolvi ouvir os representantes dos grupos e pegar as melhores ideias, as pautas mais fortes, tudo o que podia contribuir para a "venda" do produto.
Por um momento, me senti como os representantes de vendas de plano de saúde: eu tinha pacotes diferentes para o cliente e a obrigação de que ele comprasse pelo menos uma das opções de planos. Para a missão, fomos eu e a repórter-professora Carla Miranda.
Fomos recebidas na sala de vidro por Gazzi e seus óculos de massa em estilo Woody Allen. A caneta balançando e os olhos para cima demonstravam certa preocupação de Gazzi com os temas apresentados.
- "Bastidores de São Paulo", apresentei. - Acabamos de dar um especial parecido no aniversário da cidade, replicou Gazzi. - "Tempo do paulistano". - Muito interessante, mas sem um especialista medindo o valor do tempo, vai ser um caderno de achismo. - "Subterrâneo de São Paulo"? - Pouco criativo. - É... pensamos em mostrar para o público como funcionam as coisas debaixo da terra e que as pessoas não sabem. Tipo para onde vai a água do bueiro. Meu pai mesmo sempre pergunta o que vai acontecer com o subsolo brasileiro quando retirarem o pré-sal. - Isso!, disse Gazzi. O caderno vai ser esse! Vamos puxar esse caderno nessa ideia do pré-sal e o que as pessoas não sabem do subterrâneo.
Sai feliz com a escolha de um dos temas e aprendi a lição: cuidado ao citar seu pai em uma reunião de pauta. Ele pode ter te pautado e você nem percebeu.