Uma situação inusitada, que exemplifica a falta de infra-estrutura de órgãos governamentais no País, ocorre em Luziânia, a quarta maior cidade de Goiás em número de habitantes. Como o Instituto Médico-Legal (IML) do município não tem câmara de refrigeração, os cadáveres que ali chegam em estado avançado de putrefação são estocados no lado de fora do prédio, para que o cheiro não torne o ambiente de trabalho insuportável. O problema arrasta-se por anos e é ainda mais grave pelo fato de o prédio do IML estar localizado dentro do perímetro urbano de Luziânia - além do odor desagradável, a manutenção de corpos em estado avançado de putrefação ao ar livre, mesmo que acondicionados em urnas funerárias, pode acarretar riscos à saúde pública. O IML de Luziânia, que fica a apenas 58 quilômetros de Brasília, recebe cerca de 60 corpos por mês, dois quais aproximadamente 50% são de vítimas de homicídio. O órgão atende principalmente o entorno da capital federal, que conta com uma periferia populosa. Geralmente, os corpos chegam pouco tempo após a morte e ficam dentro do prédio, onde os exames são feitos - os cadáveres costumam ser liberados para enterro já no dia seguinte aos exames. No local há sempre um médico legista trabalhando - são sete ao todo. Nesta semana, há três caixões encostados em uma das paredes externas do prédio do IML. Em um deles há um esqueleto de uma pessoa não identificada, morta já há mais de dois anos, que havia sido levado para exames de arcada dentária e análise radiológica em Goiânia e retornou a Luziânia. Nos outros dois estão um homem, vítima de homicídio, e seu cachorro, cujo cadáver será examinado para definir se o animal também foi assassinado. A família da vítima, cujo nome não foi divulgado, encontrou os corpos dez dias após as mortes. O diretor do órgão, subordinado à Secretaria da Segurança Pública de Goiás, Aleixo Braz, diz lamentar a situação. "Temos um plano de investimento aprovado e só estamos esperando a definição do orçamento e a liberação de recursos para a reforma." var keywords = "";
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.