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Em um dia, adolescente de 13 anos e menina de 3 são mortos a tiros no Rio

Criança e os pais foram fuzilados em assalto após saírem de lanchonete; garoto voltava para casa depois de partida de futebol quando foi atingido por bala perdida no Complexo do Maré, onde houve confronto entre policiais e criminosos

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Foto do author Marcio Dolzan

RIO - Uma menina de 3 anos e um adolescente de 13 foram mortos a tiros nesta terça-feira, 7, no Rio de Janeiro, em mais um dia marcado por assaltos, tiroteios e interrupção de trânsito em importantes vias da cidade. A criança foi fuzilada em um assalto e o rapaz, alvejado durante uma operação policial contra criminosos.

A Polícia Militar realizou operações na zona norte e vias foram interditadas para evitar que alguém fosse atingido por balas perdidas. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Emily Sofia, de 3 anos, havia acabado de sair de uma lanchonete em Anchieta, na zona norte carioca, por volta de 2h30 da madrugada. Ela estava com os pais, Uésley Lima, de 36 anos, e Maria Auxiliadora Marriel, de 21, que também foram baleados. A família seguia para casa quando foi cercada por pelo menos cinco assaltantes. Lima teria se assustado e acelerado. A quadrilha, com fuzis, atirou diversas vezes contra o veículo.

Os três foram socorridos, e a criança morreu na unidade de pronto-atendimento. Lima passou por cirurgia para extrair uma bala do abdome e tinha quadro estável na terça-feira à noite. Ao saber da morte da filha, Maria Auxiliadora abandonou o hospital antes mesmo de receber alta.

Os bandidos deixaram uma granada no local do crime e fugiram sem levar nada. Para escapar, o grupo roubou um carro na Estrada do Engenho Novo, ainda em Anchieta, e abandonou o outro veículo em que estava quando atirou contra o casal e a garota. No carro, havia uma emulsão (uma mistura) de dinamite.

Até a noite desta terça-feira, os bandidos não haviam sido identificados. A Polícia Civil suspeita que o grupo tenha cometido outro crime na mesma madrugada. Trata-se da explosão de uma agência bancária em Nilópolis, na Baixada Fluminense, a menos de dois quilômetros de onde a família foi baleada.

Outra morte. Nesta terça-feira, a Polícia Militar realizou duas operações no Complexo da Maré, na zona norte carioca, e em uma delas o adolescente Jeremias Moraes da Silva, de 13 anos, foi baleado. Ele chegou a ser socorrido pelos bombeiros, mas chegou morto ao hospital. Segundo a mãe, a auxiliar de serviços gerais Vânia Moraes, o filho foi atingido quando voltava para casa após jogar futebol. Durante as operações na Maré também morreu baleado Mateus Ribeiro, de 20 anos. Ele foi levado ao hospital por um taxista, mas não resistiu.

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Segundo a Secretaria de Segurança, havia a informação de que quatro pessoas – entre elas policiais – haviam sido rendidas por bandidos em uma das favelas da Maré, a Nova Holanda, o que motivou a entrada do caveirão, veículo blindado da polícia. A pasta não informou se essas pessoas foram liberadas.  Por volta das 15 horas, quando os PMs deixavam a comunidade e seguiam pela Avenida Brasil, principal via de acesso ao Rio, criminosos passaram a disparar em direção a eles. Para evitar que alguém fosse atingido, a PM ordenou o fechamento da via, segundo a secretaria.

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A Avenida Brasil foi interditada por volta de 16 horas. Também foram fechadas as Linhas Vermelha e Amarela, onde motoristas tiveram de voltar na contramão. As vias foram liberadas cerca de meia hora depois.

O Complexo da Maré é um conjunto de 16 favelas onde vivem cerca de 130 mil habitantes. Fica entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha e é cortado por um trecho da Linha Amarela. A área é disputada por quadrilhas rivais.

Governo. Em nota, o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) lamentou as mortes e disse que “essa não é a cidade que todos nós queremos”. Já o secretário de Segurança, Roberto Sá, negou que tenha havido erro em alguma das ações policiais realizadas na Maré. Segundo ele, a operação na favela Nova Holanda foi emergencial e não havia como impedir desfechos indesejados.

Menores vítimas de violência

A cada três dias, a cidade do Rio de Janeiro teve uma morte violenta de criança ou adolescente de até 17 anos em 2016, segundo dados do Instituto de Segurança Pública fluminense. Foram 126 registros de mortes violentas – como homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte – nessa faixa etária. Isso representa 6,6% do total de 1.909 ocorrências. O perfil predominante das vítimas, em 82% dos casos, é de pretos e pardos. E a maioria dos óbitos foi por arma de fogo.

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A ONG Rio de Paz indica outro dado: 43 crianças ou adolescentes até 14 anos perderam a vida durante assaltos ou por bala perdida desde 2007 no Rio e na região metropolitana.

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Foi o caso de Maria Eduarda Alves, de 13 anos, baleada dentro da escola onde estudava em Acari, na zona norte, em março do ano passado. A perícia confirmou que um dos tiros que atingiu a menina partiu da arma de um policial militar. A PM fazia operação no momento do crime.

Em junho do ano passado, um bebê foi atingido dentro da barriga da mãe durante confronto entre policiais e traficantes na Favela do Lixão, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A criança ficou um mês internada, mas não resistiu.

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