O enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) a Mianmar, Ibrahim Gambari, afirmou nesta terça-feira que nas últimas semanas foi iniciado no país um processo político que poderá trazer resultados positivos. Ao relatar ao Conselho de Segurança da ONU detalhes de sua recente visita a Mianmar (a antiga Birmânia), Gambari disse que o governo do país está realizando mudanças concretas. "A situação hoje é qualitativamente diferente do que era algumas semanas atrás", afirmou. Entre as mudanças, Gambari citou a indicação de um membro do governo para negociar com a dissidente Aung San Suu Kyi, a permissão para que ela se encontre com líderes de seu partido político e a afirmação de que o governo irá considerar as propostas de Suu Kyi nas negociações. Prêmio Nobel da Paz em 1991 por sua luta pela democracia e pelos direitos humanos no país, Suu Kyi passou a maior parte dos últimos 18 anos em prisão domiciliar. Em 1990, seu partido venceu as eleições no país, mas foi impedido de assumir o governo. "Eu deixei claro ao governo que a melhor maneira de tornar real o seu comprometimento em dialogar com Aung San Suu Kyi é libertá-la sem demora, para que ela possa participar integralmente do diálogo", disse Gambari ao Conselho de Segurança. O enviado da ONU disse que não conseguiu todos os resultados que esperava. Afirmou, no entanto, que ficou claro que o governo de Mianmar pode responder à pressão internacional. "Em um balanço, os resultados positivos desta última missão mostram que o governo de Mianmar pode ser sensível às preocupações da comunidade internacional", disse Gambari. Esta foi a segunda visita de Gambari ao país do Sudeste Asiático desde a violenta repressão do governo aos protestos populares realizados durante vários dias em setembro. Desta vez, o enviado da ONU não conseguiu ser recebido pelo líder de Mianmar, o general Than Shwe. A junta miltar também negou um encontro entre Gambari, Than Shwe e Suu Kyi, por considerar que seria prematuro. Depois de ouvir o relato de Gambari, o embaixador dos Estados Unidos na ONU, Zalmay Khalilzad, disse não acreditar que houve mudança real na atitude do governo de Mianmar. Segundo a correspondente da BBC na ONU, Laura Trevelyan, os diplomatas estão divididos sobre a atitude do governo de Mianmar, sem saber se há um real comprometimento em implementar mudanças ou se a junta militar que comanda o país está apenas tentando ganhar tempo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.