A confirmação neste domingo do nome de José Serra para disputar pelo PSDB a Prefeitura de São Paulo reabilita o poder de articulação no partido do governador do Estado, Geraldo Alckmin. Alckmin, que já recebeu a alcunha de "picolé de chuchu", de críticos de sua inexpressividade política, não só costurou nas últimas semanas a entrada de Serra na disputa, mas acabou por frear, ao distribuir secretarias estaduais, o apoio de aliados do PT na esfera nacional ao pré-candidato petista em São Paulo Fernando Haddad. "O Alckmin teve um papel preponderante, se ele não entra para fazer a gestão, Serra não seria candidato", disse o deputado Vaz de Lima, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Serra, que afirmava não ter interesse em concorrer ao cargo que ocupou entre janeiro de 2005 e março de 2006, quando renunciou para se candidatar ao governo estadual, selou a participação nas prévias no final de fevereiro com o peso de ser considerado o único com poder de unificar o arco de aliados que dirigem o Estado - PSDB, DEM e o recém-criado PSD, do atual prefeito Gilberto Kassab. "José Serra foi melhor prefeito que São Paulo já teve e tem condições de derrotar o projeto do PT, que é um adversário que temos de enfrentar", disse Andrea Matarazzo, um dos pré-candidatos iniciais das prévias do PSDB ao se retirar da disputa. Uma vitória de Serra passa, segundo o tucano Vaz de Lima, pela união de forças de Alckmin e Kassab, que comandam as máquinas do Estado e município. Desafetos, os dois políticos se enfrentaram em 2008 na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Sem apoio real de seu partido, que preferiu apoiar Kassab, Alckmin terminou em terceiro. Tucanos ouvidos pela Reuters afirmaram que a pressão de Alckmin para que Serra concorresse foi motivada pela visão de que o resultado das eleições deste ano terá reflexo direto na disputa de 2014 e a ameaça de o PT se fortalecer caso conquistasse a capital. Em conversa com a Reuters no início de março, Alckmin deixou claro que seu projeto para 2014 é a reeleição. Perguntado se pretendia enfrentar outra campanha presidencial - ele concorreu contra Lula em 2006 -, o governador respondeu que "só se for do Santos", uma menção ao seu time do coração. Em seguida, citou projetos de saneamento que quer coordenar em 2012, 2014 e 2016. Apesar de atuar para a consolidação de Serra como candidato - declarou seu voto de militante ao antecessor e trabalhou para arrefecer as críticas de outros postulantes - Alckmin não chegou a defender o cancelamento das prévias em favor do ex-governador. "Nós conversamos sobre isso e ele (Serra) já tinha a visão de que eram necessárias as prévias", disse ele. GOVERNO DILMA Os reflexos da articulação liderada pelo governador em São Paulo foram sentidos no Palácio do Planalto e tiveram efeito imediato ao sustar a aproximação de Kassab com o governo federal, que incluía a entrega de um ministério para o PSD em troca de uma aliança de apoio a Haddad na capital paulista. Já a aliança nacional do PT com o PSB pode sofrer seu mais grave abalo caso os pessebistas, que ocupam secretarias no governo Alckmin, decidam apoiar um candidato alternativo e não Haddad, apadrinhado por Lula. A decisão deve ser tomada até o fim de abril pelo presidente da sigla, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, que se reúne com Lula nos próximos dias. Petistas ouvidos pela Reuters reconheceram que a movimentação que resultou na candidatura de Serra e nas negociações de Alckmin com outros aliados do PT foram um revés na candidatura de Haddad. "Pode atrasar o apoio de Kassab, mas não irá evitar, para sempre, a aliança com o PSD", disse uma liderança do PT em São Paulo, sob condição de anonimato. Mesmo com a reabilitação de José Serra como voz de oposição ao governo federal, Alckmin, que não esconde as relações cordiais que mantém com a presidente Dilma Rousseff, deve continuar dando as cartas para garantir que o PSDB e seus aliados não percam o controle político em São Paulo, maior reduto oposicionista do país.
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