Não adianta apenas prender os pedófilos, é preciso impor a eles tratamento psicológico. É o que defende o psicanalista da polícia de Quebec, no Canadá, Gilles Ouimet. O especialista, que faz hoje palestra para promotores do Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, sugere tratamentos como terapia em grupo e ações institucionais que facilitem as denúncias e o combate a este crime. Ontem, o Senado instalou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, com foco no uso da internet. A primeira reunião da comissão está prevista para amanhã. Ouimet diz que os pedófilos não podem controlar seus próprios impulsos sexuais, daí a importância de prendê-los, mas "um dia ou outro esses indivíduos saem da prisão". Então, recomenda que "na sentença, a sociedade tem a responsabilidade de impor a eles um tratamento psicológico, para prevenir a repetição desse comportamento". Entre as técnicas com maiores resultados positivos, o especialista cita terapia em grupo e o incentivo à mudança de comportamento a partir da dissociação dos desejos sexuais da idéia de prazer. O psicanalista compara o comportamento do pedófilo ao de um viciado em drogas ou de um assassino em série, pelo caráter impulsivo de seus atos. "Há um intenso desejo sexual que precisa ser satisfeito. Quanto mais o pedófilo abusa de crianças, mais ele precisa repetir essa ação e se submeter continuamente aos riscos decorrentes dela", diz Ouimet. "O que a polícia precisa fazer é tirá-lo das ruas o quanto antes, para reduzir os danos à sociedade." A mente do pedófilo, explica o canadense, é movida por impulsos e ansiedades sexuais frustrados. "O prazer do abuso é um alívio para a ansiedade do criminoso", diz. "Depois, ele usa um mecanismo psicológico de autoexplicação, de modo a permanecer em paz com sua consciência." Investigação A psicologia, diz Ouimet, pode favorecer a coleta de evidências pela polícia, principalmente durante os interrogatórios. "Ajuda o criminoso a confessar o ato e a vítima a dar informações precisas sobre o que aconteceu." No Quebec, conta, após uma denúncia de abuso, a lei permite que as autoridades tirem as crianças da tutela da família. "A tolerância é zero." Na avaliação de Ouimet, são essenciais ações institucionais de prevenção e estímulo à denúncia de casos de pedofilia, principalmente nas escolas e famílias. Para ele, cabe à CPI em particular pesquisar e documentar os casos que ocorrem no Brasil e desenvolver ferramentas que facilitem a ação policial.