Os Estados Unidos, com apoio da União Europeia, vão propor o estabelecimento de um mecanismo para solucionar os desequilíbrios globais que foram uma das causas do agravamento da crise financeira global. Os países estão tentando finalizar um documento para apresentar na reunião do G-20, na sexta-feira, em Pittsburgh. O objetivo do mecanismo, chamado de "Estrutura para Crescimento Equilibrado e Sustentável", será reduzir os superávits de países como China, Japão e Alemanha, e aumentar a poupança em países deficitários como os EUA e a Grã-Bretanha. Mas a proposta enfrenta resistência de países como a China, porque abre a discussão sobre a desvalorização do yuan.O mecanismo incluiria medidas para reduzir o déficit do orçamento dos EUA e aumentar a taxa de poupança do país, fazer com que a China dependa menos de suas exportações e mais do mercado interno, e a Europa adotar mudanças estruturais para aumentar sua competitividade e investimentos. "Não podemos voltar para a era em que os chineses ou alemães vendem tudo para a gente, nós nos endividamos com empréstimos lastreados em nossas casas, sem vender nada para eles. Esse será um assunto do G-20", disse o presidente Barack Obama no domingo, na CNN. A evolução do mecanismo seria monitorada e os países teriam de prestar contas. "Esperamos chegar a um acordo para um modelo de crescimento equilibrado, que nos ajude a lidar com os desequilíbrios que levaram a esta crise, e faça com que os países prestem contas", disse em entrevista Michael Froman, vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA. A China resiste porque a discussão sobre desequilíbrios fatalmente se transforma em uma crítica ao modelo exportador chinês, seu grande superávit e a desvalorização do yuan. "Os desequilíbrios certamente não foram a causa do problema; a principal causa da crise foi a falta de supervisão e o abuso com a abertura do mercado, altos níveis de endividamento e muita especulação", disse ao Financial Times Zhou Wenzhong, embaixador da China em Washington. A China quer focar a discussão no recrudescimento do protecionismo, já que o país tem sido o principal alvo das muitas tarifas e medidas antidumping adotadas pelas nações nos últimos tempos, apesar das promessas do G-20 de evitar medidas protecionistas. A tarifa de 35% imposta sobre pneus chineses pelos EUA esquentou a discussão. "Foi uma enorme quebra da promessa do G-20 de não adotar medidas protecionistas", disse ao Estado Dan Ikenson, diretor associado do Centro de Política Comercial do Instituto Cato. "Obama não terá nenhuma credibilidade quando ele, de forma hipócrita, exortar o G-20 a evitar o protecionismo."No mecanismo de monitoração e correção dos desequilíbrios globais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) poderia ter um papel essencial. O apoio dos EUA a um maior papel dos emergentes na governança do FMI faz parte da barganha para convencer a China a participar do mecanismo. Os chamados BRICs querem transferir 7% das cotas dos países desenvolvidos no FMI para os emergentes e 6% da fatia no Banco Mundial. A Casa Branca aceita que 5% das cotas dos países ricos sejam dados aos emergentes, perto do que pedem os BRICs.
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