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Europa terá de captar 1,6 trilhão de euros

Dívida das sete economias mais industrializadas do mundo é de US$ 30 trilhões e supera metade do PIB global

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Por Jamil Chade
Atualização:

A crise na Grécia e sua dívida podem ser apenas um "aperitivo" para um problema bem maior: o banco Morgan Stanley calculou que os governos europeus terão de captar no mercado financeiro 1,6 trilhão em 2010 para conseguir rolar suas dívidas para o próximo ano. Hoje, as sete economias industrializadas no mundo acumulam dívida de US$ 30 trilhões, mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Mas o maior problema está em economias menores, onde a capacidade de crescer e de lidar com buracos nas finanças são menores. Para o Morgan Stanley, o fim da recessão teve uma migração "dramática" da dívida de empresas para o setor público. Em seu último relatório, o Banco de Compensações Internacionais também indicou que o mercado já considera papéis soberanos como mais arriscados que investimentos em empresas americanas. No Reino Unido, o debate já se colocou no centro das eleições que ocorrem este ano. O Partido Conservador, que está na oposição, já anunciou que a dívida do país ameaça paralisar a economia britânica. Nesta semana, a União Europeia promoveu uma revisão para baixo do crescimento do Reino Unido em 2010. O partido de oposição agora promete ser mais radical do que a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher no corte de gastos. Para 2010, o Reino Unido precisará financiar US$ 271 bilhões de sua dívida. Já o primeiro-ministro Gordon Brown insiste que o crescimento precisa ser assegurado antes do início de corte de gastos.Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel reagiu irritada às últimas turbulências, insistindo que a culpa não era apenas da dívida, mas do comportamento dos bancos, que estariam apostando na desvalorização do euro. "A dívida que tivemos de acumular agora está se tornando objeto de especulação exatamente pelas instituições que salvamos há um ano e meio."A dívida ainda fez ressurgir velhos ódios entre os países. Uma sondagem revelou que mais da metade da população alemã é contra dar recursos para salvar os gregos. Nesta semana, a reação em Atenas desenterrou problemas antigos. "Os nazistas levaram o ouro da Grécia e nunca devolveram", disse o vice-primeiro-ministro grego, Theodoros Pangalos, em entrevista à BBC. "Não digo que eles tenham de devolver o dinheiro. Mas pelo menos que agradeçam."A resposta foi imediata. Em carta aberta, o jornalista alemão Walter Wullenweber ressaltou: "Caros gregos, no decorrer dos anos, os alemães deram a cada um de vocês 9 mil. Vocês são nossos amigos mais caros."Outra preocupação é com a crescente concorrência entre bancos e governos por recursos no mercado internacional. O levantamento do Morgan Stanley indicou que os bancos europeus terão sérias dificuldades para rolar uma dívida acumulada de 1 trilhão para os próximos dois anos. Isso porque terão de competir no mercado exatamente com os bônus soberanos de governos que também estarão buscando financiar suas dívidas colossais.A concorrência entre papéis soberanos e a captação de bancos, segundo o estudo, será intensa. O problema é que pode não haver espaço para os dois. Em 2010, os bancos europeus precisarão captar 560 bilhões, ante 540 bilhões em 2011. Já os governos precisarão de 1,6 trilhão apenas neste ano.

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