Apoiado pelos principais partidos, Suprema Corte, militares, empresários e Igreja, o golpe corretivo de Honduras funcionou. O presidente deposto, Manuel Zelaya, deixa o país rumo ao exílio mais fraco do que nunca, sem ter como reivindicar o poder, pois seu mandato terminou ontem. Eleito com facilidade já no primeiro turno, o presidente Porfírio "Pepe" Lobo assume com a crise interna hondurenha praticamente debelada e, nos próximos meses, deve conseguir provar aos países ainda reticentes de sua vitória - como o Brasil - que ele é a única alternativa viável para tirar Honduras do atual limbo político.Mais importante do que o exílio de Zelaya talvez seja o fato de ele ter sido incapaz de deixar um sucessor ou mesmo um legado político. A nova composição do Congresso hondurenho evidencia esse fracasso. Dos 128 deputados eleitos, apenas 4 se dizem zelaystas (todos membros da legenda radical Unificação Democrática). Os 45 congressistas do Partido Liberal - legenda esquizofrênica da qual fazem parte tanto Zelaya quanto o ex-líder de facto, Roberto Micheletti - ou apoiaram o golpe de junho ou se distanciaram do deposto. Com 71 cadeiras, o conservador Partido Nacional, de Pepe, é a maior bancada.No fim, os ideólogos do golpe atingiram seus objetivos: Zelaya saiu, a possibilidade de uma Constituinte foi enterrada e Honduras deixou a órbita bolivariana. Como não tem sentido manter o gelo internacional, Pepe acabará reconhecido presidente - e Zelaya será parte do passado.
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