Faculdades municipais do Estado de São Paulo têm 56% das vagas ociosas

Instituições creditam a crise principalmente à concorrência crescente com a rede particular, que, com a expansão dos programas de financiamento estudantil, viu crescer o número de alunos; para driblar falta de estudantes, entidades fazem promoções

PUBLICIDADE

Excesso de cursos em cidades pequenas, mensalidades semelhantes às praticadas pela rede privada e qualidade duvidosa fazem com que as faculdades públicas mantidas por municípios no Estado de São Paulo tenham dificuldade para preencher as vagas. Segundo o último Censo da Educação Superior, 56,7% das vagas oferecidas em 2009 não foram preenchidas, o equivalente a 13 mil. A taxa vem crescendo desde 2004, quando sobravam 6 mil.

 

PUBLICIDADE

Muitas dessas autarquias - entidades que recebem verbas do município, mas têm autonomia de gestão - oferecem mais de mil novas vagas por ano em cidades com população entre 30 mil e 100 mil habitantes. Dependem de credenciamento no Conselho Estadual de Educação, porém atuam sem interferência do Ministério da Educação (MEC).

 

Dessa forma, não são obrigadas a seguir as normas federais ou passar por avaliações como o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Diferentemente das instituições federais e estaduais paulistas, não gozam, em sua maioria, de boa reputação. E, apesar de serem públicas, as faculdades municipais criadas antes da Constituição podem cobrar mensalidades.

 

Os responsáveis pelas entidades creditam à concorrência crescente com a rede particular a queda de interesse pelas faculdades municipais. Em São Manuel, município com 35 mil habitantes, das 320 vagas oferecidas pelo Instituto Municipal de Ensino Superior (Imes) no ano passado, apenas 74 foram preenchidas. "O que causou isso foi a expansão da oferta de ensino superior. Hoje, São Manuel tem três faculdades. O Imes existe desde 1982, e a sobra de vagas começou no fim dos anos 90, com o início da expansão do ensino superior privado", afirma o diretor acadêmico Marcelo Augusto Totti.

Publicidade

 

O diretor executivo do Sindicato das Entidades de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), Rodrigo Capelato, concorda. "A expansão desse mercado, com grandes universidades oferecendo mensalidades e opções mais atraentes, trouxe dificuldades para as fundações municipais."

 

Segundo especialistas em ensino superior, também contribuíram para o cenário atual programas como o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e o Programa Universidade para Todos (ProUni), além da expansão das vagas nas universidades públicas com acesso por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

 

No entanto, na opinião de especialistas, a estrutura é o principal motivo para a crise. "Essas instituições não se encaixam no sistema atual. Elas funcionam com estrutura de funcionalismo público, mas recebem mensalidades e lidam com capital privado", destaca Ryon Braga, presidente da Hoper Consultoria.

 

"Muitas funcionam como cabides de emprego em pequenas cidades, com influência política", diz o diretor presidente da CM Consultoria, Carlos Monteiro.

Publicidade

 

Promoções. Para tentar reverter a queda de alunos, algumas faculdades fazem promoções. As Faculdades Adamantinenses Integradas - que oferecem quase 3 mil vagas em 31 cursos em uma cidade com 33 mil habitantes - dão 50% de desconto no valor da mensalidade para quem se matricular nas vagas não preenchidas pelo vestibular. Alunos transferidos de outras instituições também têm o benefício. Segundo a entidade, a média de ociosidade nos últimos três anos ficou em 250 vagas.

 

A diminuição no número de matrículas faz também com que diminua o interesse dos municípios em promover melhorias nas faculdades. Na Fac-Fito, em Osasco, os alunos foram desalojados no ano passado, quando a prefeitura decidiu doar o prédio da entidade para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) instalar uma unidade no local.

 

Os estudantes ficaram sabendo que passariam a ter as aulas em uma pequena construção localizada na mesma área em abril, depois da publicação de uma reportagem pelo Estado. As aulas no novo prédio da Unifesp começam na segunda-feira.

 

Alunos disputam cursos de Direito e Medicina

Publicidade

 

O cenário é bem diferente quando se trata de cursos de alta procura, como Medicina e Direito. Nessas graduações, a concorrência sempre é grande, com as vagas sendo disputadas por candidatos de todo o Estado.

 

Mesmo com mensalidades na faixa dos R$ 3 mil, a Faculdade de Medicina de Jundiaí preenche anualmente todas as 60 vagas - em 2010, a concorrência foi de 42 candidatos/vaga. Em compensação, o curso de Enfermagem não preencheu 32 das 40 vagas oferecidas no ano passado.

 

Com conceito 4 no último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) - as notas vão de 1 a 5 -, a Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo é outro exemplo bem sucedido. A instituição consegue preencher todas as 480 vagas oferecidas anualmente, com mensalidades a R$ 650.

 

RETRATO

Publicidade

 

22 instituições municipais de ensino superior funcionam no Estado de São Paulo

 

243 graduações são oferecidas por essas instituições

 

23.410 é o total de vagas oferecidas

 

10.141 vagas foram preenchidas, segundo o último Censo da Educação Superior

Publicidade

 

67 instituições municipais de ensino superior existem no Brasil

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.