Os parentes das vítimas do acidente do Airbus da TAM não receberam bem a notícia de que o grupo de dez pessoas que será apontado pela polícia como responsável pela tragédia deve responder pelo crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo e não como homicídio culposo (sem intenção). A pena para ambos os crimes é a mesma - chega a 6 anos de detenção. Os representantes da Associação dos Familiares das Vítimas do Acidente da TAM (Afavitam) continuam afirmando que os responsáveis pela tragédia deveriam responder por homicídio com dolo eventual - quando a pessoa assume os riscos de sua conduta. "É uma notícia que frustrou as expectativas de todos os familiares. As autoridades não podem fazer denúncias infundadas, mas o que esperamos é uma punição exemplar", disse o presidente da Afavitam, Dário Scott - que perdeu a filha Thaís, de 14 anos. O advogado que representa a Afavitam, Eduardo César Leite, será assistente de acusação. "Continuo a sustentar o crime com dolo eventual. O promotor não tem conhecimento nem experiência em Tribunal do Júri (no qual são julgados os crimes, com intenção, contra a vida)", disse Leite. O promotor Mário Luiz Sarrubbo rebateu: "Nesse caso, o advogado trabalha com o interesse monetário. O promotor, sempre, trabalha com interesse de justiça. Eu tenho toda a liberdade para trabalhar." O consultor de empresas Christophe Haddad - que perdeu a filha Rebeca, de 14 anos - está mais inconformado. "Falaram que o acidente foi um atentado. Então, onde estão os terroristas? Pode publicar assim (no jornal), porque do jeito que as coisas andam no Brasil só falando em tom de deboche." A mesma opinião tem a assistente social e representante da comissão jurídica da Afavitam, Gisele Garcia. Ela perdeu o marido, o gerente-geral da TAM Express, José Antonio Rodrigues Santos da Silva, de 50 anos. "Não aceitamos a história do atentado contra a segurança do transporte aéreo. Ainda acreditamos que o que se deu foi um homicídio com dolo eventual. As pessoas responsáveis tinham consciência do que estava prestes a acontecer", afirma. PILOTOS Os dirigentes da associação são unânimes em afirmar que apontar erros dos pilotos Kleiber Lima e Henrique Stefaninni di Sacco por estresse também não é correto. "Se estavam estressados é por culpa exclusiva da TAM, que não dava boas condições de trabalho a eles e os ameaçava de demissão em caso de reclamação", aponta. Todos os detalhes do inquérito serão discutidos na reunião mensal da Afavitam, no próximo fim de semana, em São Paulo. "Aí já poderemos ter mais informações sobre as conclusões do inquérito", afirma Haddad.