Fogo congestiona avenidas da zona sul

Proximidade com Congonhas alimentou falsa informação de acidente aéreo; labaredas chegaram a 30 metros

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O incêndio que destruiu ontem a loja de colchões Casa do Tapeceiro, na Rua Araguari, 835, em Moema, na zona sul de São Paulo, deixou duas pessoas levemente feridas. Segundo o Corpo de Bombeiros, 25 equipes com 90 homens, a maioria do 4º Grupamento, foram mobilizadas. O imóvel fica nas imediações do Aeroporto de Congonhas, o que contribuiu para os rumores de queda de um avião. De acordo com o cabo Vicente, do Centro de Operações do Corpo de Bombeiros (Cobom), o fogo começou às 17h05. A nuvem de fumaça podia ser vista de vários pontos da capital. A Avenida Santo Amaro foi totalmente interditada às 17h30, no trecho entre as Ruas Gomes de Carvalho e Doutor Cardoso de Melo. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) organizou desvios para os motoristas que estavam na região, o que antecipou o horário do rush nas principais avenidas, como a 23 de Maio e Bandeirantes. O capitão Mauro Lopes, porta-voz do Corpo de Bombeiros, também enfrentou o engarrafamento. Às 18 horas, ele ainda não havia chegado ao local do incêndio. Por volta de 20 horas, quando a Avenida Santo Amaro foi liberada, ainda havia lentidão de 1,5 km, sentido centro, e de 2,5 km, no sentido bairro. O trânsito em Moema ficou congestionado. A causa das chamas, que atingiram 30 metros de altura, só serão esclarecidas depois da perícia. Havia suspeita de explosão de gás, mas o gerente da loja, Luís Ferreira de Lima, de 57 anos, disse que o fogo foi provocado por um curto-circuito numa tomada. Segundo Lima, oito pessoas estavam no local quando o fogo teve início. "A loja estava cheia de colchões, travesseiros e espumas. O incêndio se espalhou rapidamente", completou. Os donos da loja, um homem e sua mulher, sofreram queimaduras leves. Ele teve parte dos cabelos chamuscados e ela, ferimentos nas costas, ao tentar conter as chamas. O casal foi medicado no pronto-socorro do Hospital Jaguaré, na zona sul. O gerente estimou em R$ 400 mil o prejuízo. O capitão Mauro Lopes informou que os bombeiros levaram uma hora e meia para apagar o fogo. Às 19h15, a situação estava sob controle. "Mas ainda existem focos. O rescaldo deve durar a madrugada inteira. A preocupação maior era evitar a propagação do fogo para o prédio ao lado. Por isso, fizemos uma evacuação. No início houve dificuldade. O incêndio era volumoso e as labaredas, altas", explicou. Dois caminhões do corpo de bombeiros permaneceram durante toda a noite no local por precaução. Mauro Lopes também acrescentou que desde o início sabia não se tratar de um acidente aéreo. "Se fosse queda de avião, seria mais complicado. Haveria mais vítimas e a gente teria de se preocupar com outros fatores, como o combustível da aeronave." Os bombeiros garantiram que os prédios no entorno do local do incêndio foram avaliados e não há risco de ruína. CONGONHAS Apesar dos desmentidos oficiais, duas horas depois do início do fogo ainda havia funcionários do Aeroporto de Congonhas comentando um suposto acidente. "Daqui dá para sentir o cheiro de fumaça. Dizem que foi um avião de pequeno porte que caiu na Bandeirantes", afirmou o empurrador de carrinhos Renato Santos. Só os passageiros estavam tranqüilos: poucos ficaram sabendo do boato. "A história estava mal contada. Quando ocorre um acidente, dá para notar na cara dos funcionários da empresa a gravidade", disse o segurança Ademir Francisco da Silva, que já presenciou essa cena nos acidentes da TAM, no ano passado, e da Gol, em 2006. Os atendentes da Pantanal apesar de calmos, aparentavam uma certa irritação com os jornalistas que telefonaram em massa para confirmar o acidente. Um funcionário acredita que o boato começou porque um comandante da Pantanal relatou à torre que estava a 2 milhas da pista de Congonhas, mas não conseguia enxergá-la por causa da fumaça. O BOATO Foi justamente a grande nuvem de fumaça formada no céu que deixou intrigado o taxista Celino Santos Oliveira, de 42 anos, que voltava do Aeroporto de Congonhas, em direção à Avenida Santo Amaro. O passageiro que estava no seu carro arriscou o primeiro palpite. "Ele disse que só poderia ser mais um avião que havia caído", disse Oliveira, que achou o comentário cabível. Quando chegou ao ponto do táxi, próximo à Avenida dos Bandeirantes, perguntou aos colegas se sabiam algo sobre a queda de um avião. "Um deles disse que viu um avião da Pantanal passar pouco antes da fumaça surgir. Só podia ser mesmo o avião da Pantanal que havia caído. Logo vimos na TV que era apena um incêndio." O boato provocou alarde. "Foi um avião! Foi um avião", saiu gritando a atendente Carla Braga do Nascimento, de 20 anos, que trabalha numa padaria a 500 metros do prédio que pegou fogo, logo depois que escutou a notícia na TV. Uma cliente antiga da padaria cruzou a rua e avisou Carla que não era nada daquilo. Envergonhada, ela se justificou: "Poxa! Àquela altura, tinha ouvido até que era coisa do Bin Laden!" Com curso de primeiros socorros, o segurança Osvaldo da Silva Melo, que trabalha numa churrascaria na região, foi com sua Fiorino ajudar. "Pela fumaça, poderia mesmo ser um avião." COLABORARAM NAIANA OSCAR, VALÉRIA FRANÇA, VITOR HUGO BRANDALISE e CAMILLA RIGI

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