Forças de segurança chinesas interditaram partes de Lhasa no sábado, e o governo exilado do Tibet afirmou estar investigando relatos de novos protestos, semanas após a cidade ser abalada por motins contra o governo chinês. Os relatos coincidem com a visita de um grupo de diplomatas, que foram levados sob forte vigilância para uma volta na cidade, que é o centro dos conflitos étnicos em regiões tibetanas da China a apenas meses da abertura dos Jogos Olímpicos. "Nós não sabemos quantas pessoas, mas parece ser uma grande quantidade de gente", disse Tenzin Taklha, porta-voz do Dalai Lama, sobre os eventos em Lhasa. "Eu acho que foi para coincidir com a visita dos diplomatas." A Campanha Internacional pelo Tibet, baseada em Londres, disse ter recebido informações de três fontes de que as forças de segurança tinham cercado os principais templos de Lhasa: Jokhang e Ramoche. "Toda a área foi fechada", disse a porta-voz do grupo Kate Saunders. "Eu não sei qual foi a forma do protesto. Eu acredito que o povo de Lhasa devia estar sabendo da visita dos diplomatas, assim como sabiam da visita dos jornalistas", ela afirmou. No início da semana, o governo levou jornalistas selecionados para Lhasa a fim de dar destaque à destruição e passar a impressão de que a cidade estava retornando ao normal, mas o plano deu errado quando cerca de 30 monges em Jokhang invadiram uma coletiva oficial. Os monges reclamaram da falta de liberdade religiosa e expressaram o apoio ao Dalai Lama, o líder espiritual do budismo tibetano que vive exilado e que é acusado pela China de ser o mentor dos protestos. Os conflitos na remota e montanhosa região que as tropas da China comunista entraram em 1950 começaram com uma série de manifestações pacíficas, protestos liderados por monges que culminaram em um motim em Lhasa em 14 de março. Depois disso, os protestos se espalharam para outras áreas tibetanas da China. No sábado, a China ofereceu compensação para as famílias de 18 vítimas que admitiu terem morrido na violência de Lhasa. Os representantes do Dalai Lama, que negam que ele estaria orquestrando as demonstrações, dizem que o número de mortos está perto de 140. As famílias receberiam 200 mil yuan cada (28,5 dólares), segundo o governo regional do Tibet. "Medidas devem ser tomadas para ajudar pessoas a reparar suas casas e lojas danificadas pelos conflitos ou para novas construções", informou a agência de notícias oficial Xinhua. A pressão internacional também aumentou para que a China respeite os direitos humanos, com o presidente norte-americano, George W. Bush, pedindo aos líderes chineses para negociarem com os representantes do Dalai Lama. Os conflitos se tornaram o foco de preocupação global meses antes das Olimpíadas. Pequim espera que os Jogos previstos para agosto sejam uma chance para exibir a quarta maior economia do mundo. Desde os protestos, a China está em uma ofensiva de propaganda, atacando a mídia internacional por reportagens parciais, apresentando monges budistas que condenam os motins e destacando os ganhos materiais que o Partido Comunista no poder trouxe para o Tibet. Em uma entrevista coletiva em Délhi, no sábado, o Dalai Lama acusou Pequim de propagandas que exageram a violência tibetana e minimizam a dureza da reação chinesa. "Algumas pessoas respeitadas e neutras deveriam ir (ao Tibet) investigar profundamente, com liberdade total", ele disse. (Reportagem adicional Randall Mikkelsen em Washington e Jonathan Allen em Nova Delhi)