Fracassa reunião entre governo e ruralistas; trégua acaba

Produtores rurais decidem retomar bloqueio de estradas em alguns pontos do país

PUBLICIDADE

Por Marcia Carmo
2 min de leitura

Terminou sem acordo, na madrugada deste sábado, 29, a primeira reunião entre representantes do governo argentino e ruralistas para negociar o fim dos protestos dos produtores, que completam 17 dias. "Não tivemos a resposta esperada. O governo não está disposto a rever as 'retenciones' (aumento de impostos para o setor agrícola), que é nossa principal reivindicação, o motivo do nosso protesto", disse Mario Llambias, presidente das Confederações Rurais Argentinas (CRA), ao final da reunião, que durou mais de cinco horas. "E, pelo que entendi, os bloqueios voltarão às estradas", afirmou. "A trégua (dos bloqueios) era só durante a reunião com o governo." Os protestos do setor rural foram provocados pelo anúncio de aumento dos impostos sobre as exportações agrícolas argentinas. Na sexta, 28, depois de 16 dias de protestos, os produtores haviam suspendido temporariamente os bloqueios nas estradas, que provocaram longas filas de caminhões e desabastecimento nos supermercados em vários pontos do país. Segundo Eduardo Buzzi, presidente da Federação Agrária, o objetivo da suspensão dos bloqueios era dar uma "trégua" enquanto fossem realizadas as negociações com o governo da presidente Cristina Kirchner. Em um comunicado conjunto divulgado antes da reunião, as quatro principais entidades de produtores rurais da Argentina - Sociedade Rural, Coniagro, CRA e Federação Agrária - afirmaram que as estradas seriam liberadas, mas que o setor continuaria em "alerta" e "com mobilizações" na beira das rodovias. "Diálogo aberto" Participaram da reunião os líderes das quatro entidades de produtores, o ministro da Economia, Martín Lousteau, e o chefe de gabinete da administração federal, Alberto Fernández. Ao final da reunião, Fernández disse, em entrevista à imprensa na Casa Rosada, sede da Presidência da República, que "o importante é que o diálogo foi aberto". Segundo o chefe de gabinete, foi marcada uma nova reunião para segunda-feira, na qual devem ser definidos os pontos de um plano de longo prazo para o setor agropecuário, com atenção especial aos pequenos produtores. Quando questionado se o governo poderia rever o aumento dos impostos à exportações, Fernández respondeu: "Não vamos necessariamente mudar essa medida, mas buscar mecanismos que garantam a rentabilidade do setor". Depois do fracasso da reunião, manifestantes da localidade de Gualeguaychú, na província de Entre Ríos, decidiram voltar a bloquear a estrada. Outra vez, caminhões foram impedidos de passar, e o trânsito seria liberado apenas para ônibus e automóveis até que surgissem novas propostas do governo. Na entrevista, Fernández fez um apelo pela suspensão do bloqueio, que gera desabastecimento no país. "Certamente existe alguma intransigência, mas espero que acabem com estes bloqueios, porque estamos numa etapa de diálogo", afirmou. "Esse governo quer que o agro tenha sua rentabilidade, principalmente os pequenos produtores", disse. Trigo Fernández anunciou ainda a reabertura das exportações de trigo, após ouvir dos produtores rurais que há um excedente de produção. "Concordamos com essa exportação, desde que sejam garantidos o preço e produção para consumo interno", afirmou. Fernández disse que será criada uma subsecretaria de Agricultura Familiar, como forma de atender aos pequenos produtores. Segundo o chefe de gabinete, será encontrado um mecanismo para refinanciar dívidas de cerca de 4,5 mil agricultores, endividados desde a histórica crise que a Argentina viveu em 2001. As organizações rurais vão se reunir no fim de semana para definir se participam ou não da reunião desta segunda-feira.   BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.