Três meses depois de desautorizar o anúncio feito pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o governo volta atrás. O anúncio da contratação de 4 mil médicos cubanos nesta quarta-feira, 21, seguiu os mesmos parâmetros acertados em maio durante a visita do chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, em maio - na época, com 6 mil profissionais. O acordo foi negado logo depois por causa da repercussão negativa. A reação de médicos, da oposição e mesmo de parte da população, que via na vinda dos cubanos uma simpatia com a ilha de Fidel, fez o governo minimizar a questão, descartar o acordo e desautorizar o anúncio de Patriota. A conversa, no entanto, era muito mais antiga: havia começado na visita da presidente Dilma Rousseff a Havana, em janeiro de 2012. Uma das dificuldades era justamente o acordo ter que ser feito com o governo cubano, que usa os seus médicos como produto de exportação e meios de obter divisas. O salário baixo pago aos cubanos, que podia dificultar sua sobrevivência no país, e as notícias de que parte deles é formada de "fiscais", que controlam os demais médicos, era mais uma dificuldade para vender o pacote cubano. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mudou o discurso, afirmando que o Brasil buscaria estrangeiros, com foco em portugueses e espanhóis, e que a inscrição seria individual, o que tiraria Cuba da lista. No entanto, o fracasso do Mais Médicos em atrair profissionais brasileiros e estrangeiros tornou mais fácil justificar o acordo. No início deste mês, Padilha já falava em voltar a conversar com os cubanos. Hoje, afirmou: "Nós vamos fazer todo o possível para prover a população com atendimento médico de qualidade". O acordo para a vinda dos médicos cubanos envolve os ministérios da Saúde do Brasil e de Cuba e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), que fará o contrato com a ilha de Fidel Castro. De acordo com Padilha, o Brasil repassará à Organização exatamente a mesma quantia que pagará aos médicos brasileiros: R$ 10 mil por mês, mais até R$ 30 mil de custos de mudança, em um contrato total de R$ 511 milhões até fevereiro de 2014. A diferença é que os cubanos verão uma pequena parte desse dinheiro. Todos os recursos serão entregues ao governo cubano, que fará o pagamento - em média, em outros contratos semelhantes, 30% do recebido pelo governo cubano. Padilha, no entanto, afirma que não cabe ao governo brasileiro questionar isso e que não sabe qual será o salário dos cubanos. O representante da OPAS no Brasil, Joaquín Molina, responsável direto pela negociação, também disse não saber quanto ganhariam os cubanos. "A preocupação do ministério é que esses profissionais tenham qualidade para fazer o atendimento, tenham condições de atender bem a população", afirmou o ministro, lembrando que os profissionais receberão moradia e alimentação dos municípios onde irão trabalhar.
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