Fumaça da queima de revestimento acústico causou maioria de mortes, diz resgate

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Por ANA FLOR
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A fumaça resultante da queima do revestimento acústico de uma boate em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, foi a principal causa das mais de 230 mortes no incêndio que consumiu o local, frequentado em sua maioria por estudantes universitários, disseram bombeiros que participaram dos trabalhos de resgate no local. Para entrar no que até o início da madrugada deste domingo era a boate Kiss, uma das mais famosas de Santa Maria, local a que a Reuters teve acesso, é preciso passar por pilhas de sapatos, poças d'água, chumaços de cabelo espalhados no chão e um cheiro quase irrespirável de queimado. O que eram os bancos de um bar, agora é uma pilha de ferro retorcido, o palco não existe mais e há ainda restos do que foi um revestimento acústico pendurado em partes do teto. Foi a queima desse revestimento que, segundo o Corpo de Bombeiros, asfixiou mais de 90 por cento das vítimas. O Batalhão de Bombeiros de Santa Maria recebeu o chamado sobre o incêndio às 3h20 de domingo, segundo o comandante do turno, sargento Robson Muller. O fogo começou por volta das 2h30 da madrugada. Ao chegar ao local, os 12 bombeiros primeiros bombeiros encontraram pouco fogo e uma nuvem de fumaça que chegou a fazer alguns integrantes da corporação passarem mal. "O material do revestimento se consumiu sem chamas, mas provocando uma fumaça tóxica", disse o sargento Muller. Os bombeiros usaram uma técnica de ventilação, ao quebrar uma parede na entrada da boate --o único dano perceptível à primeira vista do lado de fora é justamente parte da parede de madeira externa quebrada. Os bombeiros começaram a retirar as pessoas da boate que iam sendo atendidas do lado de fora por um serviço de emergência. Segundo o sargento Muller, a maioria das vítimas estava nos banheiros da boate. "É instintivo a pessoa procurar fugir do calor, e o banheiro sempre parece um lugar frio. Só que lá elas não escaparam da fumaça", disse. Por volta das 5h mais bombeiros chegaram para ajudar na tarefa. Segundo o sargento, no entanto, já não havia mais sobreviventes no local. Ao retirar os corpos, o que impressionou os bombeiros foi os celulares das vítimas tocando ininterruptamente. "Nunca pensei que eu fosse participar de um salvamento tão trágico. Espero que nunca se repita", acrescentou o sargento. A boate tinha três ambientes e o mais destruído pelo incêndio foi o que abrigava o palco, justamente o local onde foi aceso o sinalizador que deu início ao incêndio, durante o show de uma banda que se apresentava no local. Uma jovem que estava no local no momento da tragédia disse ter visto um artefato produzindo faísca no palco. "Olhamos para o palco e vimos muito fogo. Eu puxei meu marido e empurrei minha amiga para a porta", disse Isamara Alberici Muscopf, de 30 anos. Essa foi a segunda vez que ela e o marido, Norton Basso, de 29 anos, foram à boate este ano. Eles e um grupo de seis amigos comemoravam o aniversário de Norton. Todos sobreviveram. "Tivemos muita sorte", disse ele. O grupo ficou até as 7h ajudando a socorrer as vítimas. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo, havia em torno de 1.500 pessoas dentro da boate no momento do incêndio. O local tinha lotação máxima permitida de 1.000 pessoas.

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