A geradora e transmissora de energia Furnas vai reduzir o quadro de funcionários em mais de um terço e cortar despesas operacionais para melhorar os resultados, em um esforço para adequar sua estrutura à nova realidade do setor elétrico brasileiro. O anúncio da reorganização da subsidiária da estatal Eletrobras, feito na manhã desta segunda-feira, ocorre menos de uma semana após a presidente Dilma Rousseff ter anunciado redução média da conta de luz dos consumidores em 20,2 por cento em 2013. A diminuição do custo da energia no Brasil será possível graças à renovação antecipada e condicionada de concessões do setor elétrico e pela extinção ou redução de encargos. "Furnas não estava preparada para o modelo (do setor elétrico) que se instalou no país", admitiu o presidente de Furnas, Flávio Decat, em entrevista a jornalistas. O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, explicou que o programa de reestruturação em Furnas está em andamento há 18 meses, e foi iniciado quando o governo federal sinalizou que a renovação das concessões do setor elétrico seria onerosa às empresas, com queda de tarifas aos consumidores. "Pode ser que a medida (de reduzir a conta de luz) para a sociedade seja um limão amargo para nós, mas a gente tem que transformar isso numa limonada ou numa caipirinha saborosa", afirmou Carvalho Neto aos funcionários de Furnas, durante cerimônia que marcou o início da reestruturação da empresa. Segundo o presidente da Eletrobras, a ideia é replicar o modelo de reorganização em Furnas em todas as empresas do grupo. Batizado de PRO-Furnas, o projeto de reorganização da empresa conta com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Executivos ressaltaram que as medidas de reestruturação são resultado também da análise de indicadores de eficiência verificados em outras empresas do porte de Furnas no Brasil e no exterior. Com um programa de demissão voluntária, a expectativa é de reduzir o quadro de empregados de Furnas em 28 por cento até julho de 2013. Há ainda em curso um programa de saída escalonada de 1,3 mil funcionários terceirizados, com reposição apenas parcial por empregados próprios. Ao fim, Furnas projeta redução de 35 por cento na força de trabalho, para cerca de 4,2 mil trabalhadores. O coordenador do PRO-Furnas, Sérgio Ferraz, disse que a meta da reestruturação é reduzir as despesas operacionais --que além de pessoal incluem materiais, serviços e outros itens-- em 22 por cento até 2018. Se tudo ocorrer como o planejado, Furnas chegará a uma margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (margem Ebitda) de 70 por cento, segundo o presidente da empresa. No primeiro semestre de 2012, a companhia teve margem Ebitda de 25,70 por cento. O BID aportará 500 mil dólares no PRO-Furnas, que começa no primeiro trimestre de 2013 e tem prazo de 12 meses. Será contratada uma consultoria para reorganizar a estrutura administrativa de Furnas, que é responsável por nove por cento da geração e por 19 por cento da transmissão de energia no Brasil. CONCESSÕES O presidente da Eletrobras já tinha afirmado que o efeito da renovação condicionada das concessões sobre o grupo era gerenciável, e que os impactos seriam atenuados por meio de redução de custos e entrada em operação de novas usinas geradoras de energia. Carvalho Neto reiterou nesta segunda-feira que a Eletrobras ainda não conhece o impacto exato da renovação das concessões, pois ainda precisa saber como será a remuneração dos investimentos não amortizados, bem como os critérios de definição dos custos de manutenção e operação dos ativos. Na quarta-feira passada, uma importante fonte do governo disse à Reuters que a Eletrobras teria que reduzir seus custos em 30 por cento para compensar a renovação condicionada das concessões. (Reportagem de Fábio Couto)
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